Crise Final: Uma Análise - Parte 4


Na edição anterior nossos heróis foram derrotados pelas forças dos Deuses do Mal, que trouxeram o apocalipse para a Terra liberando a equação antivida – escravizando a mente humana. Nessa edição a roda das consequencias começa a girar.

Crise Final 4
Quando a esperança cai

 “Eram exatamente 17h30min. Foi quando tempo, espaço. 
Tudo se partiu.”
Ray

Kallibak, repaginado
E então a antivida é jogada na Terra, dominando a mente de humanos, transformando-os em zumbis a serviço de Darkseid. Como dito em post anterior, a forma como a equação é espalhada é uma grande critica, ou simples constatação, a dependência tecnologia de nossos tempos. Morrison ainda coloca dois outros conceitos em personagens que acho interessante: o primeiro é no filho do grande Deus maligno, Kalibak, que é repaginado como uma fera primitiva em forma de tigre, o mal/ódio é um sentimento primitivo destrutivo. O outro é o Ray como um Hermes moderno levando a sabedoria (luz) da informação, no caso o Planeta Diário como o único meio de transmissão de reportagens em um mundo onde a rede de comunicação eletrônica foi derrubada.

Ainda em questão de conceitos, o autor reaproveita muito bem algo criado sob a tutela do Greg Rucka em sua passagem pela mensal do Checkmate (01à 24). Como não acompanhei a revista não sei dizer se a idéia de uma agência global, não mais norte americana apenas, com seis torres espalhadas pelo mundo, formando um circulo (o qual me remeteu a alguma simbologia astrológica) é dessa fase ou coisa do Morrison. Contudo, o conceito muito me agrada – apesar de o próprio estar preparando algo na mesma linha com a Montoya dentro de Crise Final.


Durante esse período de agrupamento dos heróis ainda livres e espalhados pelo mundo, Alan Scott profere um discurso inspirador que me lembrou o de John Connor em Terminator Salvation. Ainda mais pela situação ser basicamente a mesma: comunicação difícil e falando para uma resistência. Além do mais, tal ato reforça o poder de liderança do primeiro Lanterna Verde e da Sociedade da Justiça, já que a trindade estava caída, além da Canário Negro em uma visão não muito explorada dela.

Ainda vemos a primeira aparição na saga dos Dez Grandiosos, heróis chineses – que depois tiveram uma minissérie fraca -, outra criação bem inspirada do Morrison. Vemos o Tatoo revelando o que é chamado por Raio Negro (no especial Submeta-se) de circuito, que por seu design se assemelha ao conhecimento expresso em desenho por Anthro em edições anteriores dado por Metron como arma contra os Deuses de Apokolips. Isto é, possivelmente um sistema conectado com o Quarto Mundo e a cura da antivida.

Nessa edição também vemos a uma referencia a causa possível de eventos de outro especial: Superman Beyonder, onde Clark Kent se aventura pelo Multiverso para salvá-lo, ajudar os monitores, e, assim, ter sua amada Lois Lane salva. Barry Allen assim que para sua corrida desenfreada ao lado de Wally logo aponta que o ataque de Darkseid também afetou o Multiverso. Para logo depois ser interrompido pelas novas Furias de Apokolips: Mulher-Maravilha, Batwoman, Mulher-Gato e Giganta. Depois de corromper uma quase Deusa (Diana), o mal vai até outros símbolos femininos heróicos e vilanescos da Terra.


Aliás, essa edição segue mostrando as conseqüências da investida maligna e da submissão da humanidade as forças externas de Darkseid. Uma frase posta por Raio Negro, agora justificado pela antivida, é de que “Liberdade é se render a Darkseid”, um paralelo, presumo, a uma grande obra da literatura mundial que aborda a questão dos governos, poder político e o papel da população nessa equação: 1984. Na obra, George Orwell coloca como uma das palavras de ordem do Partido Socialista Inglês, ou simplesmente Ingsoc, a expressão: “Liberdade é Escravidão”. Temos ou não uma semelhança?

Outras frases soltas pela obra se remetem a comparações com pensadores de nosso mundo. 


Quando vejo a situação das ruas com o caos antivida, me passa na cabeça a idéia de que Morrison, porralouca de renome, simpatizante do anarquismo (como pode-se ver bem em Os Invisíveis), mostra uma metáfora da situação de caos com a nossa sociedade e o sistema capitalista: Palavras de ordem como “trabalhar”, “consumir”, “morrer”, “julguem os outros”, “condenem os diferentes”, “explorar os mais fracos”, me remetem a colocações do considerado um dos papas do neo-anarquismo: Hakim Bey.

"O capitalismo, que afirma produzir a Ordem mediante a reprodução do desejo, de fato se origina na produção da escassez, e só pode reproduzir-se na insatisfação, na negação e na alienação.” 

A vida social capitalista, pautada no consumo, no desejo sem sentido, é caótica, sem vida, e como podemos nos livrar de todo esse vazio consumista? Barry Allen exorciza essa antivida de sua amada Iris com um simples beijo. A força da aceleração além de vencer a morte vence a não-vida ou ainda, o amor a tudo pode vencer, só com sentimentos verdadeiros as coisas tem sentido.

Depois de tudo, ainda nos sobra tempo de vermos a chegada do Shilo Norman ao Castelo (torre principal do Chequemate e da resistência) através de um tubo de explosão. Destaco ai um ponto também colocado pelo Multiverso DC: Shilo se apresentando como um salvador, um careca (Morrison) que a todos salva, assim como King Mob e os arquitetos em Sete Soldados da Vitória. Contudo, dessa vez, a salvação é derrotada pela paranóia?


Ao fim, Darkside retorna a existência no corpo do detetive Turpin e decide o destino do mundo com um polegar posto para baixo, em uma clara referencia aos imperadores romanos que decidiam com um gesto (polegar para baixo ou para cima) o destino de um derrotado em arena. Mais simbolismo sobre a situação da terra naquele momento, e porque não da própria DC, impossível – lembre-se que na época a Marvel estava batendo direto a editora em vendas, e para algo mudar era preciso vencer o vilão e mudanças acontecerem, ou pelo menos deveriam.

No próximo post: O julgamento da força de vontade; a ofensiva pos-humana e o inicio do nascimento do próximo mundo.

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