Você gostou do primeiro Homem de Ferro? Essa é a primeira coisa que você deve ser perguntar antes de assistir essa sequência. Se você gostou do primeiro filme, vá para o cinema tranqüilo que é garantia certa de diversão. Se você não gostou, bom... Aí é melhor passar longe. É um flme divertido, mas vá para o cinema de mente aberta.
Homem de Ferro 2 é um filme que pode – e deve – ser analisado sob diversos aspectos. Primeiro porque sendo a sequência de um filme de sucesso, vem com uma responsabilidade e pressão grande por ser tão bom ou melhor que o primeiro. Segundo porque faz parte de um plano muito maior da Marvel Studios de conectar todos os filmes dentro de uma mesma linha cronológica que leva ao filme dos Vingadores. E terceiro porque ele precisa necessariamente evoluir a história para que o filme não fique parecendo um plágio do seu antecessor. Por isso, para falar desse filme, vamos por partes.
Primeiro, a trama básica: Homem de Ferro agora é uma celebridade, já que Tony Stark revelou ao mundo ser o herói e não só ele, mas todos ao seu redor têm de lidar com as conseqüências disso para sua vida pessoal, física e psicologicamente. Nesse meio tempo, um homem planeja vingança contra Stark e seu legado, que une forças com um rival de Stark para atingir seus objetivos.
Lembro que quando o primeiro Homem de Ferro saiu, muitas pessoas viram no filme uma inspiração muito forte de Batman Begins (Homem passa um tempo fora de seu mundo natal, aprendendo novas coisas e voltando com um objetivo específico em mente, quando todos o davam como morto, decidindo usar o que tem para proteger os inocentes. O vilão é alguém que foi como um pai para ele, mas que acaba sendo seu antagonista por ter uma visão diferente de mundo; herói e vilão se enfrentam no final culminando em um clímax que deixa em aberto o retorno do vilão). Se realmente o primeiro Batman do Nolan foi uma inspiração para o primeiro Homem de Ferro, pode-se também dizer que O Cavaleiro das Trevas foi inspiração para Homem de Ferro 2.. As comparações são várias: Vilão com visual ameaçador, imprevisível e que parece estar sempre a um passo do herói; vários personagens coadjuvantes, todo tendo seu tempo de brilhar; varias subtramas ligadas à trama principal, mas que são parte de um mesmo todo; a forte sensação de que você está lendo um arco de histórias do personagem nos quadrinhos. Até troca de atores ocorreu nos dois filmes (Kate Holmes por Meggie Gyllenhaal como Rachel Dawes e Terence Horad/Don Cheadle como James Rhodes).
Mickey Rourke é Whiplash, que no filme pega elementos do vilão Dínamo Escarlate, e faz seu papel de forma muito competente. Dá até pra acreditar que o cara é mesmo russo, dado a fidelidade do sotaque. Jon Favreau, o diretor, foi muito astuto na contextualização desse personagem, pegando dois vilões completamente inexpressivos e limitados e transformando-os num personagem que é basicamente o Coringa do Homem de Ferro.
Na verdade, Favreau fez questão de trazer para este filme vilões que fossem a antítese do herói. Como Tony Stark é um gênio milionário mimado e excêntrico, Favreau dividiu esta personalidade em duas, criando Whiplash (o gênio que cresceu errado) e Justin Hammer (o mimado que cresceu... mimado). As motivações dos dois vilões não poderiam ser mais distintas: Enquanto um culpa Stark e sua família por terem destruído a família dele (olha os elementos básicos de arquiinimigo aí), o outro é apenas uma sombra de Stark, alguém que sempre quis ser como ele, mas nunca foi tão bom ou tão carismático.
Os personagens coadjuvantes estão extremamente competentes. Destaque para Gwyneth Paltrow, que se mostra uma personagem muito mais interessante e complexa neste filme (e talvez tenha conquistado seu lugar de par romântico mais relevante dos filmes de heróis até agora – depois da Lois Lane Margot Kidder, claro) e para o próprio Jon Favreau, que dá a si mesmo um papel um pouco maior desta vez, participando até de uma cena de ação. Os diálogos são com certeza o ponto forte do filme, mesmo nos momentos mais exageraodos, explicitam bem o que a cena exige e dão o tom da história.
As sequências de ação me empolgaram muito mais do que os do primeiro filme, e me pareceram bastante justas. Inclusive, a sequência final – que é enorme – acaba sendo um laboratório (proposital ou não) para como deverão ser as cenas de ação no vindouro filme dos vingadores, com diversas sequências acontecendo ao mesmo tempo, todas relacionadas entre si ao clímax da história.
No entanto, apesar do filme ser bastante divertido, ele tem seus problemas. Primeiro porque ele segue a fórmula do “em time que está ganhando não se mexe” e não ousa muito, mantendo o mesmo tom do filme anterior, com uma ou outra empreitada mais exagerada. Segundo, porque Favreau, para não tirar o tom leve do primeiro filme, inclui a clássica saga “Demônio na Garrafa” de forma muito sutil e descaracterizada, mostrando Stark com um popstar excêntrico e dado a exageros como muitas celebridades cujas vidas sempre foram tumultuadas. Mas o que nos quadrinhos foi uma fase bastante dramática do personagem se tornou motivo de piada no filme, literalmente. Há também uma série de forçadas de barra que em alguns momentos quase chegam a ser difíceis de engolir, mas você deixa passar mesmo assim.
Outro problema da película, e que eu não vi ninguém comentar em nenhuma resenha por aí é que a iniciativa da Marvel que leva aos Vingadores prejudicou o desenvolvimento do filme, pois Favreau esteve de certa forma limitado na evolução da história, já que o futuro dela já estava comprometido e ligado a outros filmes e franquias. Os personagens amadureceram, a história evoluiu do primeiro filme para esse, mas de forma tímida, para não atrapalhar o desenvolvimento dos outros projetos alheios a ele.
Falando em Vingadores, a participação de Nick Fury é pequena, mas importante, levando o enredo para uma outra direção. Se não houvesse essa subtrama atrelada à trama principal, a história não sustentaria um filme de 2 horas. Mas apesar da participação do personagem ser bacana e evoluir a história, inclusive inserindo um retcon (nem os filmes escaparam dessa), ela serve mesmo apenas para incluir o Homem de Ferro dentro do universo dos Vingadores, o que, isoladamente, poderia ter sido deixado de lado para dar uma encorpada melhor na trama principal. Mas a cena pós-créditos, apesar de boba, não deixa de ser muito emocionante para quem é nerd. Além disso, o filme também possui vários Easter Eggs bacanas (alguém mais além de mim viu que um exemplar de Capitain America nº 1 aparece nas coisas de Howard Stark?)
O saldo final do filme acaba sendo mais positivo do que negativo, mas apesar de eu ter gostado da decisão de Favreau de não incluir nenhum gancho no final de seu filme, a história ficou com cara de “episódio para encher lingüiça”, ou apenas uma grande introdução para os outros filmes que virão por aí.
No fim das contas, voltando às comparações com os Batman de Christopher Nolan, Homem de Ferro prova mais uma vez que ele e o homem morcego estão em dois extremos, sendo um a exata antítese do outro, o que não é necessariamente ruim. Seria muito chato se no mundo existisse apenas um sabor de sorvete. Um filme extremamente divertido, que não é para ser levado muito a sério, raso, mas não imbecil (apesar dos exageros e de algumas cenas forçadas) e com ótimas cenas para se ver no cinema. E se eu não falei da Viúva Negra e do Máquina de Combate é porque eles agregam muito pouco ou nada à trama.
Nota 7,5 (o que para um filme de super-herói tá bom)
Rafael Rodrigues gosta mais do Thor do que do Homem de Ferro, mas na verdade ele é fã mesmo do Superman.