A nona arte - parte 2: os quadrinhos no Brasil
Por Jack Starman
Isso aí povo, essa semana o Al Lock se juntou as suas outras personalidades em uma campanha singrando o espaço-tempo para formar a entidade conhecida e temida por todos como Ser Supremo, e me deixou aqui para trazer a vocês um pouco mais de história dos quadrinhos, dessa vez na nossa terra brasilis.
Há muita controvérsia de quando começou os quadrinhos no Brasil, mas muitos estudiosos colocam a data de 1905 com a publicação da revista O Tico-Tico da editora O Malho o marco inicial, pois ela já trazia em suas páginas algumas tiras de quadrinhos. Porém, foi a partir do surgimento do Suplemento Infantil do Jornal A Nação em 1934 que se iniciou um interesse maior pela publicação das HQ`s.
Essa linha de importar coisas feitas no exterior era bem definida no Suplemento Infantil, um caderno especial de domingo do jornal A Nação sobre o comando do jornalista Adolfo Aizen que meses após seu lançamento tornou-se uma publicação independente, com o título Suplemento Juvenil para ampliar seu público alvo, tendo uma tiragem de 360 mil exemplares nas três primeiras edições. Logo outros suplementos apareceram como O Globo Juvenil de O Globo; A Gazeta Juvenil do jornal Gazeta de São Paulo e O Guri do jornal O Cruzeiro, para citar só os principais.
Assim como nos Estados Unidos, no Brasil logo surgiram as primeiras revistas especializadas em quadrinhos. A primeira foi Mirim de 1939, lançada por Adolfo Aizen, depois veio O Lobinho, do mesmo editor. Temendo perder espaço no mercado consumidor de HQ´s, o jornalista Roberto Marinho lançou a revista O Gibi, sendo por causa dessa publicação a popularização do termo “gibi” ao se referir às HQ´s no país. Enquanto isso, outro nome de peso ingressava no mundo dos quadrinhos: Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados (rede de meios de comunicação), que lançou a revista O Guri (1940), acirrando a concorrência.
Em maio de 1945, Adolfo Aizen escreveu mais uma parte importante da história nacional dos quadrinhos. Nesse mês foi fundada oficialmente a Editora Brasil-América (EBAL), importante editora de HQ´s por muitos anos. Foi na EBAL a primeira aparição dos personagens Disney no Brasil, ainda no mesmo ano. Durante este período a agência Voge Publicidade publicou uma pesquisa onde afirmava que 75% dos jovens brasileiros que sabiam ler consumiam revistas juvenis (JÚNIOR, 2004, p.121), confirmando assim a abrangência das histórias em quadrinhos no país.
Nos anos 50 aconteceu a 1ª Exposição Internacional de Quadrinhos, no Rio de Janeiro, organizada por Álvaro de Moya, além do surgimento do personagem Menino Maluquinho de Ziraldo, que em 1960 começou a publicar a revista O Pererê, tendo como personagem principal um sací e não raro suas aventuras tinham um fundo ecológico ou educacional. Também na década de 60 o cartunista Henfil deu seguimento a tradição do formato "tira" com seus personagens Graúna e Os Fraudinhos. Foi nesse formato de tira que estrearam os personagens de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica ainda no fim de 1959. Só mais tarde suas histórias passaram a ser publicadas em revistas, primeiro pela Editora Abril e depois pela Editora Globo. Ainda nessa década, o golpe militar inspirou publicações cheias de charges como O Pasquim que, embora perseguido pela censura, criticavam a ditadura incansavelmente.
Nesse período, revistas universitárias revelaram autores consagrados até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, além de Angeli, Glauco e Laerte, que vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos alternativos no Brasil durante os anos 80, desenhando para a Editora Circo em revistas como Circo e Chiclete com Banana. Eles produziram as histórias de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Rê Bordosa, Geraldão e Overman. Mais tarde juntou-se a "Los Três Amigos" o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam até hoje na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras.
A partir dos anos 80, muitas publicações independentes (fanzines) começaram a circular com um lado mais alternativo na temática, inspirados por grandes nomes das HQ´s alternativas como os europeus Millo Manara, Tamburini e Libertatore, e os brasileiros Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia que faziam o “samurai das ruas” em O Vira-Lata. Apesar da força de vontade, muitas dessas tentativas não preduraram. Apesar de existirem diversas revistas voltadas estritamente para a HQ nacional, como Bundas (já extinta), Outra Coisa (com informações sobre arte independente) e Caô, pode-se considerar que as produções tipicamente nacionais ainda não se firmavam no Brasil nesse periodo.
Na década de 90 a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1ª e 2ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro em 1991 e 1993, e a 3ª em 1997 em Belo Horizonte. Estes eventos em cada versão contaram com público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, tendo exposições cenografadas, debates, filmes, cursos e todos os tipos de atividades. No fim dessa mesma década e começo do século XXI, surgiram na internet diversas HQ´s brasileiras, ganhando destaque os Combo Rangers, criados por Fábio Yabu que tiveram três fases na internet, uma mini-série impressa e vendida nas bancas pela Editora JBC em três edições, ganhando, posteriormente, uma revista mensal pela mesma editora com 12 edições, e, pela Panini Comics em 10 edições
Hoje em dia, do ponto de vista das grandes tiragens com produção nacional, há predominância das HQ´s da Turma da Mônica, que fazem sucesso em outros lugares do planeta, porém, já se conta com uma nova geração de quadrinistas que não visam só o cenário internacional, como Spacca e seu Santô e os Pais da aviação, André Kitagawa com o Chapa quente, Ferréz e Alexandre de Mayo e Os inimigos não mandam flores. Esses autores procuram retratar o país e suas peculiaridades urbanas, mostrando que podemos ter esperança de uma melhora no cenário nacional e uma forma bem brasileira de se fazer HQ´s, como já dizia Álvaro de Moya: ”Algum dia terá que surgir também, em síntese de todos esses desencantos que é a triste e saudosa história dos quadrinhos no Brasil, uma verdadeira e genuína forma de fazer quadrinhos brasileiros”.
Por Jack Starman
Isso aí povo, essa semana o Al Lock se juntou as suas outras personalidades em uma campanha singrando o espaço-tempo para formar a entidade conhecida e temida por todos como Ser Supremo, e me deixou aqui para trazer a vocês um pouco mais de história dos quadrinhos, dessa vez na nossa terra brasilis.
Há muita controvérsia de quando começou os quadrinhos no Brasil, mas muitos estudiosos colocam a data de 1905 com a publicação da revista O Tico-Tico da editora O Malho o marco inicial, pois ela já trazia em suas páginas algumas tiras de quadrinhos. Porém, foi a partir do surgimento do Suplemento Infantil do Jornal A Nação em 1934 que se iniciou um interesse maior pela publicação das HQ`s.
Essa linha de importar coisas feitas no exterior era bem definida no Suplemento Infantil, um caderno especial de domingo do jornal A Nação sobre o comando do jornalista Adolfo Aizen que meses após seu lançamento tornou-se uma publicação independente, com o título Suplemento Juvenil para ampliar seu público alvo, tendo uma tiragem de 360 mil exemplares nas três primeiras edições. Logo outros suplementos apareceram como O Globo Juvenil de O Globo; A Gazeta Juvenil do jornal Gazeta de São Paulo e O Guri do jornal O Cruzeiro, para citar só os principais.
Assim como nos Estados Unidos, no Brasil logo surgiram as primeiras revistas especializadas em quadrinhos. A primeira foi Mirim de 1939, lançada por Adolfo Aizen, depois veio O Lobinho, do mesmo editor. Temendo perder espaço no mercado consumidor de HQ´s, o jornalista Roberto Marinho lançou a revista O Gibi, sendo por causa dessa publicação a popularização do termo “gibi” ao se referir às HQ´s no país. Enquanto isso, outro nome de peso ingressava no mundo dos quadrinhos: Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados (rede de meios de comunicação), que lançou a revista O Guri (1940), acirrando a concorrência.
Em maio de 1945, Adolfo Aizen escreveu mais uma parte importante da história nacional dos quadrinhos. Nesse mês foi fundada oficialmente a Editora Brasil-América (EBAL), importante editora de HQ´s por muitos anos. Foi na EBAL a primeira aparição dos personagens Disney no Brasil, ainda no mesmo ano. Durante este período a agência Voge Publicidade publicou uma pesquisa onde afirmava que 75% dos jovens brasileiros que sabiam ler consumiam revistas juvenis (JÚNIOR, 2004, p.121), confirmando assim a abrangência das histórias em quadrinhos no país.
Nos anos 50 aconteceu a 1ª Exposição Internacional de Quadrinhos, no Rio de Janeiro, organizada por Álvaro de Moya, além do surgimento do personagem Menino Maluquinho de Ziraldo, que em 1960 começou a publicar a revista O Pererê, tendo como personagem principal um sací e não raro suas aventuras tinham um fundo ecológico ou educacional. Também na década de 60 o cartunista Henfil deu seguimento a tradição do formato "tira" com seus personagens Graúna e Os Fraudinhos. Foi nesse formato de tira que estrearam os personagens de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica ainda no fim de 1959. Só mais tarde suas histórias passaram a ser publicadas em revistas, primeiro pela Editora Abril e depois pela Editora Globo. Ainda nessa década, o golpe militar inspirou publicações cheias de charges como O Pasquim que, embora perseguido pela censura, criticavam a ditadura incansavelmente.
Nesse período, revistas universitárias revelaram autores consagrados até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, além de Angeli, Glauco e Laerte, que vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos alternativos no Brasil durante os anos 80, desenhando para a Editora Circo em revistas como Circo e Chiclete com Banana. Eles produziram as histórias de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Rê Bordosa, Geraldão e Overman. Mais tarde juntou-se a "Los Três Amigos" o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam até hoje na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras.
A partir dos anos 80, muitas publicações independentes (fanzines) começaram a circular com um lado mais alternativo na temática, inspirados por grandes nomes das HQ´s alternativas como os europeus Millo Manara, Tamburini e Libertatore, e os brasileiros Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia que faziam o “samurai das ruas” em O Vira-Lata. Apesar da força de vontade, muitas dessas tentativas não preduraram. Apesar de existirem diversas revistas voltadas estritamente para a HQ nacional, como Bundas (já extinta), Outra Coisa (com informações sobre arte independente) e Caô, pode-se considerar que as produções tipicamente nacionais ainda não se firmavam no Brasil nesse periodo.
Na década de 90 a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1ª e 2ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro em 1991 e 1993, e a 3ª em 1997 em Belo Horizonte. Estes eventos em cada versão contaram com público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, tendo exposições cenografadas, debates, filmes, cursos e todos os tipos de atividades. No fim dessa mesma década e começo do século XXI, surgiram na internet diversas HQ´s brasileiras, ganhando destaque os Combo Rangers, criados por Fábio Yabu que tiveram três fases na internet, uma mini-série impressa e vendida nas bancas pela Editora JBC em três edições, ganhando, posteriormente, uma revista mensal pela mesma editora com 12 edições, e, pela Panini Comics em 10 edições
Hoje em dia, do ponto de vista das grandes tiragens com produção nacional, há predominância das HQ´s da Turma da Mônica, que fazem sucesso em outros lugares do planeta, porém, já se conta com uma nova geração de quadrinistas que não visam só o cenário internacional, como Spacca e seu Santô e os Pais da aviação, André Kitagawa com o Chapa quente, Ferréz e Alexandre de Mayo e Os inimigos não mandam flores. Esses autores procuram retratar o país e suas peculiaridades urbanas, mostrando que podemos ter esperança de uma melhora no cenário nacional e uma forma bem brasileira de se fazer HQ´s, como já dizia Álvaro de Moya: ”Algum dia terá que surgir também, em síntese de todos esses desencantos que é a triste e saudosa história dos quadrinhos no Brasil, uma verdadeira e genuína forma de fazer quadrinhos brasileiros”.