Crise Final: Uma Análise - Parte 3


Nessa edição é podemos dizer que a trama corre, mas não de uma forma negativa, pelo contrário, ela sai pontuando momentos importantes em locais diferentes que nos levam ao próximo movimento no tabuleiro chamado Terra e no jogo entre os Deuses do Mal e os seres humanos.

Crise Final 3
Quando o inferno sobe à Terra

“Não. É o.... O céu sangra. O Inferno... Está... Está Aqui"
Mulher Superiora

Reforçando a idéia que, em um primeiro olhar, a saga é uma história de suspense regada a investigação policial,   Morrison abre a história com a S.H.A.D.E. invandindo o Clube Dark Side atrás de Renée Montoya, a Questão, que estava atrás do detetive Danny Turpin – pego pelas forças de Darkseid na edição anterior. O interessante é como o autor a cada número prepara um cenário que irá se interconectar mais a frente, com a relação de Montoya com a Shade e os planos de criação de uma força global de defesa. 

Outra coisa é o uso de um dos melhores personagens de Sete Soldados da Vitória: Frankstein. É impressionante como Morrison se sente a vontade com o personagem e a rede de espionagem que ele criou ao seu redor, pena a DC não dar um tratamento melhor a essa versão pop do monstro de Mary Shelley.

Ainda nessa seqüência nos deparamos com uma mensagem escrita na parede por um “autor fantasma” como uma profecia, lembrando muito as mensagens da Fonte para o Pai Celestial, e também as mensagens divinas na bíblia, só que com um ar mais digital, fazendo uma antecipação de fatos de um futuro próximo.

Um conceito levantado nessa história é da relação dos velocistas com a morte, haja visto que na edição anterior vimos Barry Allen, morto há décadas, voltar a vida. Contando para a família sobre o encontro com Barry, Jay Garrick aponta que “a morte não pode viajar mais rápido do que a luz”. Não sei se o que penso tem a ver com essa idéia, mas indo por uma visão científica me veio a mente o conceito de Einstein sobre viagens a velocidade da luz, onde o tempo passa de uma forma diferente e, assim, uma pessoa que saísse da Terra e fosse até outra galáxia em velocidade da luz ao voltar teriam passados décadas, ou séculos, e ele estaria exatamente igual a quando saiu, enquanto todos seus contemporâneos estariam mortos. Tornando assim a velocidade da luz uma forma de despistar a morte, em um tipo de metáfora. (caguei regra geral agora).


Outro ponto legal de se ver é como o autor retoma conceitos antigos dentro do universo criado por Jack Kirby, como o capacete dos Justificadores que o Libra coloca no Homem-Flama, nos dando a primeira mostra do que será feito com os humanos: retirar seu livre-arbítrio e liberdade, uma destruição do conceito básico criado por Deus para diferenciar os humanos dos outros seres vivos, transformando-os em puros animais domesticados. O golpe fatal vem quando Mokkari, assecla do Deus do Mal, assim como no apocalipse bíblico, espalha a “marca da besta”, ou melhor, um vírus eletrônico que leva a equação antivida para todos os sistemas de comunicação do mundo. Somos derrotados exatamente por nossa dependência tecnológica.



Crise Final ressalta algo interessante sobre as forças vigilantes dos super-heróis: sua incapacidade de prevenção, vivendo eternamente reagindo a ameaças, e, assim, não fazendo completamente seu papel, ou, até mesmo, a irresponsabilidade de sua comunidade com seus próprios membros, haja vista a falta de interesse dos “grandes heróis” em saber o que se passava com Mary Marvel, a alma pura corrompida pelo mal, a “virgem sacrificada”, que ressurge em Bludhaven para enfrentar a Mulher-Maravilha e espalhar nela um vírus genético de controle – feito para, assim como os capacetes justificadores, converter os não atingidos pela equação antivida. 



Alias, essa corrupção de Diana fecha o ciclo de simbolismos ligados a Trindade da DC: Batman, o herói do submundo, preso, Superman, o filho de Apollo, inutilizado pela sua dor, e a Mulher-Maravilha, a guerreira da alma feminina, destruída. Os Deuses Malignos vem à Terra e destroem seus Semideuses. Em poucas semanas a Terra está dominada pelas forças de Apokolips, restando para os heróis e forças governamentais preparar planos de contingência contra a guerra declarada e suas conseqüências.


Ver tal situação, mesmo sendo em uma história de aventura, me fez pensar se os humanos fossem atacados por seres externos (sejam aliens ou mesmo vindo dos infernos) se estaríamos preparados para o embate (desconsidere a viagem mental).

Assim, chegamos ao fim da terceira edição de Crise Final, com a Terra sendo dominada pelo mal, os heróis acuados e o caos imperando.

No próximo post: resistir é preciso enquanto a anti-vida justifica.

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