Catfish (2010)


Vivemos dentro de um mundo hoje em dia ligado a velocidade e dinamismo da virtualidade. Em tempos de milhões de redes sociais, blogs, programas de conversação online, uma enxurrada de informações e contatos são feitos a distancia de um clique. Conhecemos pessoas vizinhas a nós ou tão distante quanto o extremo oposto do mundo, mas, uma questão sempre nos persegue: Será que a pessoa do outro lado é realmente quem se diz ser? É sobre isso que o documentário Catfish vem nos relembrar.

No filme, Nev Schulman é um fotógrafo de 24 anos de idade, que passa a receber quadros pintados de fotos suas postadas no Facebook feitos pela pequena Abby Pierce de 8 anos. Mantendo contato pela rede social ele conhece Megan, irmã de Abby, sua mãe Angêla e irmãos.Depois de um longo relacionamento online – que inclui troca de presentes e conversas ao telefone com Megan e sua mãe – Nev, e seus amigos, Ariel e Henry, decidem ir até uma fazenda no Michigan para conhecer toda a família, que até então parecia perfeita. Mas, quando um dado não “bate”, o mundo de Nev cai e ele resolve ir até o final para descobrir se realmente foi enganado por todo o tempo.

Depois de ver o filme A Rede Social imaginei ter visto no cinema a mostra definitiva sob nossa atual cultura digital, voltada para a geração de pefis, programas, intrigas e ícones, ao assistir Scott Pilgrim Contra o Mundo me vi reavaliando essa percepção ao me deparar em tela com mais uma mostra dessa realidade de interconexões (narrativamente e visualmente falando). Mas, então, em um fim de semana tedioso, me deparo com Catfish e minhas percepções novamente são abaladas.

A estética do filme se utiliza muito bem de uma montagem que procura mostrar como apreendemos as coisas sob uma tela de computador, além do uso de câmeras mais “caseiras” no decorrer do filme reforçando, assim, esse caráter de uma geração sempre filmando, fotografando, postando, algo de sua vida. Contudo, a história que traz fortíssimamente como vivemos ligando o mundo virtual ao real, seja por fotos que tiramos, postamos e outros pintam elas, ou os famosos mashups de conteúdos em recortes, colagens, reconfigurações. Num viés psicológico, a obra levanta uma questão sobre o que se passa na mente de pessoas que assumem um perfil “fake” online, porém, não para trollagem, agredir outros, mas sim se relacionar de verdade com outras pessoas, só não assumindo quem se é de verdade.

Catfish traz consigo também outra polêmica, que para mim não diminui em nada o impacto do filme e sua função social. Mas, para comentá-la irei deixar um aviso de breve SPOILER e o texto em branco para ser selecionado se você quiser saber.

Muitos acusam o documentário de não ser verdadeiro e sim um falso-documentário, isto é, um filme feito com uma estética documental, mas com uma história fictícia. Outra visão aponta que ele é um doc-fic, ou seja, um documentário com partes ficcionais: Nev teria sim sido abordado por Abby, ou a pessoa por trás dela, e uma parte do filmado era real, contudo, a jornada de ida até a cidade do ser humano por trás da tela de computador teria sido montada em alguns aspectos. Minha opinião? Acho que a segunda visão está mais próxima da realidade, afinal, tem momentos que vemos uma reação muito parecida com uma verdadeira, mas em outros momentos (como uma cena com uma caixa de correios) é muito “perfeitinha” para ser real.


Em resumo, Catfish – grande sucesso do Festival de Sundance de 2010 – vale ser visto pela reflexão que ele levanta e por ser um ótimo filme de suspense que utiliza os recursos do estilo documental “universitário”, usando de uma comparação muito da grosseira, isto é, sem os formalismos “oficiais” usados por gerações de cineastas, o que para mim não o diminui. 

E se você não sabe o que significa o titulo veja o filme e entenda em uma breve, e poderosa, explicação tanto o seu significado quanto o da existência da própria obra.


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