Hoje o Renver tras pra gente mais uma resenha de livro e a obra da vez é o imenso Moby Dick. Rapaz, tem que ter fôlego pra mergulhar nesse clássico, grande pra caceta, então confere ai a nálise pra ver se ela te empolga a encarar essa jornada.
E, claro, mande o seu post tambem!! Envie DJÁ seu texto e imagens pro "De fora da panela", através do e-mail contato@uarevaa.com.
Todos conhecem — mesmo os que ainda não leram o romance de Melville — a história de Moby Dick: o herói, o moço Ismael, vai a New Bedford e engaja-se como marujo num navio baleeiro, o Pequod. Seu companheiro na aventura é um estranho homem de cor, Queequeg, príncipe de uma tribo canibal da Polinésia — um primitivo em todo o esplendor bárbaro da sua condição de selvagem. O comandante do Pequod é o capitão Acab, homem que sofre de uma estranha e perigosa loucura, a paixão de ódio por Moby Dick, a baleia branca astuta e feroz, que todos os marinheiros conhecem e temem, e que já arrancou uma perna do capitão Acab num duelo anterior...
(Rachel de Queiroz - “Moby Dick, A Fera do Mar”)
É tão estranho definir o que é Moby Dick, quanto explicar o estranho fascínio que esse livro exerce sobre o leitor. O público em geral tem uma visão muito simplista desse livro achando que tudo se resume a história de uma caçada a grande e feroz baleia (acredito que isso se deva em parte as adaptações do livro pra outras mídias). Uma visão deliciosamente equivocada.
Moby Dick ou A Baleia (o título original em Londres) é um livro de 1851, de Herman Melville (01/Agosto/1819 – 28/Setembro/1891) que teve uma vida marcada pelo mar de 1839-1844. Serviu como ajudante de navio; arpoador; chegou a ser preso por participar de um motim; conviveu com canibais, os Typee das ilhas Marquesas (na Polinésia Francesa); e apoiou uma forte oposição contra missionários no Havai por tentarem converter a população local. Toda essa experiência de vida do autor explica a razão do apego incondicional do selvagem canibal Queequeg com Ismael (o narrador da história), e as críticas há hipocresia cristã/puritana da época, contidas em Moby Dick.
Escritor de 10 romances e alguns contos, Moby Dick foi o auge e o começo do fim pro autor, infelizmente a crítica e o público da época menosprezaram o livro. Herman Melville morreu aos 72 anos no total esquecimento, vítima de um ataque cardíaco, na época nenhum jornal publicou o seu falecimento. Sua obra só foi reconhecida em meados da primeira guerra mundial.
Por que o fascínio por Moby Dick? São os detalhes!!! Uma trama que se desenvolve lentamente, a viagem no baleeiro (o Pequod) começa só depois da página 100 e o confronto final (e praticamente único) com a baleia acontece nas últimas 100 páginas. São mais de 600 páginas repletas de referências bíblicas, mitológicas, filosóficas e shakesperianas. Com uma narrativa verborrágica quase poética em alguns trechos. Embora a caça à baleia seja trama principal, o livro é uma leitura rica em simbologias e possíveis analogias, entre elas:
- O grande Leviatã Moby Dick (sim é uma baleia macho) talvez seja o puritanismo prevalecente na sociedade americana do final do século XIIX, e a caçada uma revolta contra este.
- Uma metáfora da passagem da sociedade para o capitalismo organizado.
- Ou talvez uma estranha analogia sobre o preconceito racial e religioso da época. Vejam este Estudo Avançado.
Com certeza toda essa complexidade é que fez o livro ser mau recebido em sua época, pelo visto a mentalidade “massa veio” não é de hoje.
E por fim o prato principal: A grande caçada. Conforme a trama se desenvolve fica aquela a sensação do destino inevitável. Mais ou menos quando você apronta (ou aprontava) na escola e desconfia que os seus pais sabem (ou vão saber) e você simplesmente não tem outro lugar pra ir, uma hora você vai ter que voltar pra casa e agüentar as conseqüências (olha eu fazendo analogias). O livro vai dando amostras - através de presságios, profecias e o rastro de destruição de Moby Dick - do que vai acontecer ao Pequod e à aos seus tripulantes e mesmo assim os protagonistas não recuam...
Acabe exerce uma influência selvagem e inexplicável sobre todos, mesmo sobre o racional Starbuck (primeiro imediato de Acabe) e nas palavras de Acabe encerramos essa resenha:
“Eu me sinto velho, Starbuck, e careca, como se fosse Adão mancando sob as pilhas dos séculos, desde o paraíso.”
Curiosidades:O maior desafio dessa resenha é despertar o interesse nas pessoas que ainda não leram Moby Dick e também agradar aquelas que já leram. São tantos detalhes que muitas vezes não sabia nem por onde começar, por isso me desculpem pelo tamanho desse post.
- A sinopse no começo dessa resenha foi extraída da versão Biblioteca Folha de “Moby Dick” (1998). Encontra-se na página 649 em diante.
- No decorrer do livro Ismael (o narrador) explana sobre cetologia de forma tão didática que chega à parecer algum outro livro sobre fisiologia das baleias. Esses capítulos são classificados pelo público e crítica como “Capítulos Técnicos”. Que entre outras coisas abordam a descrição minuciosa dos equipamentos e métodos de pesca baleeira.
- O livro te obriga a pesquisar. Eu mesmo aprendi muito sobre mitologia grega, costumes da cultura indígena, cultura marítima, sobre as diferentes partes de um navio (o que é um “castelo de proa” ou um “mastro de mezena”) e claro sobre baleias.
- Entendeu porque o título da resenha é “TCC sobre Baleia.”?
- Outro detalhe interessante é o constante desapego à trama principal, em determinado capítulo temos os acontecimentos de forma linear (a caça à baleia), no capítulo seguinte, por exemplo, Ismael descreve um caso de anos depois envolvendo uma viagem à Índia cujo objetivo era a pesquisa no hinduísmo sobre referências à baleia.
- A reverência, o respeito e acima de tudo a obsessão pelo conhecimento sobre baleias que o narrador demonstra é algo fascinante, chega uma hora que ele chama a baleia do “Deus dos oceanos”.
- Tem 2 trechos (na verdade são vários) nesse livro que eu acho simplesmente magníficos. O primeiro quando descreve a voracidade dos tubarões (afinal na pesca baleeira do século XIX a carcaça da baleia ficava amarrada junto ao navio um tempo considerável). E a segunda, é uma breve a descrição (quase poética), de como as baleias reverenciam o sol, segundo o narrador elas tem a peculariedade de cantar para o sol quando este surge no horizonte.
- Segundo algumas informações na internet, a edição original tinha 666 páginas.
- Uma ultima observação. Uma noção bíblico-cristã básica ajuda muito, o livro está mergulhado em referências e analogias bíblicas, inclusive trechos apócrifos.
Mesmo sendo um livro grande, com alguns trechos cansativos, dê uma chance a ele, tenho certeza que vocês não vão se arrepender. A maioria dos capítulos são curtos, no máximo 6 páginas, isso facilita a leitura e também apreciação lenta do livro (eu mesmo levei quase 3 meses pra ler).
E se vocês quiserem uma resenha didática e muito mais rica sobre Moby Dick vejam esses links:
Moby Dick - HERMAN MELVILLE (Editora COSACNAIFY, 656 pág.) - parte 1
Moby Dick - HERMAN MELVILLE (Editora COSACNAIFY, 656 pág.) - parte 2
Pessoal, ainda teremos um post (garanto, bem mais curto) falando sobre as adaptações do livro.
Até a próxima!!!
Aruévaaaaaa!!!