O Exorcismo de Anneliese Michel – Requiem

“Páre com isso! Não vai te deixar, porque nunca deixará seu corpo. Seu corpo só tem a você, e só a você”
Requiem





Tema Macabro





Existe um grande conflito não declarado (mas às vezes bem explícito) entre os que acreditam nas alegações sobrenaturais do caso de Anneliese Michel e os que descartam esta possibilidade, e este embate vai muito além do caso em si e tem muito mais raízes ideológicas. De um lado, temos um incidente que, caso realmente se pudesse provar os aspectos sobrenaturais e demoníacos, seria a evidência necessária para os descrentes, sem contar na validação da crença católica, que finalmente poderia renovar sua supremacia sobre as outras religiões e ganhar novamente os holofotes (de forma positiva, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos). Do outro, temos acadêmicos, médicos e psiquiatras que vêem tais crenças não só como um atraso no progresso da humanidade, mas como um perigo para a sociedade, uma vez que, alegam, em um caso como o de Anneliese Michel vemos o quão negligentes pessoas bastante racionais podem ser por conta de suas crenças e tradições. Richard Dawkins é o mais notório crítico dessas crenças, e convenhamos que hoje em dia é difícil ver com bons olhos a religião quando, por exemplo, uma jovem de 13 anos morre por não ser submetida a uma transfusão de sangue por conta de sua própria família, uma vez que a religião deles não permite tal prática.

Esta discussão, é claro, está longe de se encerrar, e o caso de Anneliese Michel é apenas um dos muitos aspectos deste conflito, que sinceramente não sei se algum dia terminará. De qualquer maneira, independente de qual posição esteja “certa” ou “errada”, só existe uma verdade que todos nós compartilhamos (ou pelo menos deveríamos compartilhar): o respeito ao ser humano e principalmente o respeito à vida, pois nenhum deus, nenhuma verdade é mais importante que isso. Nenhuma ciência, nem muito menos nenhuma religião. É pela vida que devemos lutar e é ela que devemos preservar a qualquer custo (mesmo que o custo seja descobrirmos que estivemos errados durante toda nossa vida)*.

Este conflito fé X ciência, apesar de ser de certa forma o tema do filme o Exorcismo de Emily Rose, é explorado de forma muito mais profunda e humana, sem apelos cinematográficos no filme alemão Requiem, de 2006.

Coincidentemente produzido na mesma época de O Exorcismo de Emily Rose (mas sem nenhuma relação com a produção deste), Requiem é um drama dirigido por Hans-Christian Schmid e conta a história de Michaela, desde sua admissão na faculdade, já com problemas de epilepsia, até o subsequente agravo de sua condição e sua percepção de que estava sendo possuída por demônios. Diferente de sua contraparte americana, o filme não explora o julgamento dos padres que se seguiu após a morte de Anneliese, focando-se na vida da jovem e nas dificuldades que enfrentou ao passar por estes problemas.



A história explora de forma mais realista o contexto clínico da personagem, mostrando sua tentativa de levar uma vida normal, tendo que lidar com sua doença em meio a uma família e uma comunidade enraizada nas tradições católicas. Com esse contexto, fica fácil entender porque Michaela (interpretada por Sandra Huller) atribuiu sua condição, que até então os médicos não conseguiam curar, a aspectos demoníacos. Não é um filme de terror, mas como se relaciona com o tema destes posts, não poderia ficar de fora.

Requiem é um filme difícil de se encontrar por aqui. Foi lançado em DVD pela Casablanca Filmes, mas não é fácil encontrar nem em locadoras, nem para venda, até onde pude constatar. E antes que pensem na facilidade de encontrar online: É possível, mas também é difícil. Mas a busca vale a pena, recomendo o filme como um dos mais tristes e interessantes que eu já assisti.

Espero que esta série de posts tenha servido para fazer os leitores refletirem. Não pretendo com isto mudar opinião de ninguém, muito menos provar a hipótese sobrenatural ou impor a hipótese clínica. Espero apenas que isso faça todos refletirem sobre o valor da vida e de como é bom estar vivo. E que nossos caminhos somos nós que escolhemos, seja isso bom ou ruim.

Curiosidades:
- Sandra Huller ganhou diversos prêmios por sua atuação impressionante como Michaela em Requiem;
- Não espere efeitos especiais típicos dos filmes americanos. O que impressiona o telespectador é justamente a narrativa crua e a filmagem quase documental, sem firulas e sem apelações (embora com cenas fortes).



*Desculpem a divagação exagerada, certos assuntos é difícil escrever com imparcialidade.

Na próxima Madrugada:
Um grupo de estudantes decide fazer terapia para lidar com seus medos. Mas mal sabem eles que não superá-los poderá ser mais perigoso do que jamais imaginariam. Na próxima semana, descubra o que é O Medo.

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