Legend of the Five Rings – Ou Legenda de o cinco anéis.


"Sapo cururu da beira do rio, poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"

"Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, vou ficar paralizado e vou afundar."

"Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos."

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.

Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?"

E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."

Conforme prometido na matéria passada, hoje vamos falar de Legend of the Five rings, um dos meus preferidos jogos de RPG.

A primeira vista parece somente mais um joguinho de samurais, com toda aquela frescura de honra, espadinhas de Kill Bill e saias. Uma lida superficial no livro básico você encontra o mesmo esquema batido clichezento onde o pica grossa do jogo é chamado de imperador, que concentra o poder político, militar e religioso, sua palavra é obedecida não importa a quão retardada pareça. Depois vem os campeões de clã, famílias imperiais, Daimios, Magistrados, pessoas importantes com cargo e por último o personagem do jogador que tem de obedecer todos que estão acima sem questionar, afinal, Samurai é aquele que serve.

Entretanto, do mesmo jeito que Tolkien pegou as bases da Europa e construiu seu próprio cenário acrescentando particularidades e fantasia, aqui os autores bebem do que tem de melhor na cultura japoronga, chinesa e Hindu, misturando com fantasia oriental: magia,  espíritos malígnos, Onis e coisas estranhas que acontecem o tempo todo. Os Kami, espécie de deuses, ficam o tempo todo aparecendo, o que torna difícil não acreditar nos caras.

O cenário tem três facetas importantes ou modos de jogo: A faceta Bushi, onde as guerras ocorrem, com cenas de batalha e tudo mais que estamos acostumados em um jogo de porrada; A faceta Shugenja, onde a magia impera, a religiosidade aflora e os bichos escrotos saem dos esgotos; A faceta Courtier, onde reina a politicagem, intriga e manipulações, aliás, não conheço RPG que melhor explora o mundo das cortes como L5R.

Todas essas três facetas são ricamente explicadas e campanhas inteiras podem se basear em apenas uma delas, pessoalmente uso os três de uma vez só em todas as minhas aventuras pois dá um sabor todo especial. Como o sistema é bem mortal, meus jogadores têm tanto medo de uma batalha quanto de tomar chá com o Daimio em uma corte de inverno, talvez até mais da última!



Não vou explicar o cenário ou as regras, pois essa matéria já está longa bacarai (leitor de blog não curte ler muito), então se quiser saber mais sobre o cenário, basta dar uma rápida busca no google, recomendo dar uma olhadinha nessa daqui caso se interesse: http://www.hayashinoie.blogspot.com/ , fiquem agora com um conto retirado da abertura do livro básico da terceira edição (e traduzido nas coxas):

“Takuro hesitou brevemente quando caminhava para fora da casa de sake, estranhando a luz brilhante do sol da manhã. Seus dois camaradas gargalhavam e babavam ao seu lado, devido aos entretenimentos da noite anterior. Takuro os olhou  com um arrogante desprezo”.

Ele e seus irmãos chegaram nesse vilarejo há aproximadamente uma semana. Esse lugar não era comumente freqüentado por samurais; os camponeses estavam fracos e com medo. Eles ofereceram comida e abrigo com um quieto terror, não pedindo nada em troca, claramente petrificados com as duas espadas em suas cinturas. Takuro e seus irmãos decidiram que gostavam dali; esse vilarejo agora era deles.

Enquanto ele olhava à sua volta, percebeu que algo estava diferente. Os camponeses agrupados nos cantos da praça aberta diante da casa de sake. Eles observavam quietos, esperando. Havia medo em seus olhos, mas de uma maneira diferente.

"Você é o ronin que se chama Takuro?" chamou uma calma voz. Um homem caminhou das sombras de uma casa do outro lado da rua. Um manto fino repousava sobre sua cabeça e ombros para protegê-lo do sereno da noite. Como Takuro e seus irmãos, usava duas espadas na sua cintura, o símbolo dos samurais.

 De repente o álcool e exaustão de Takuro se extinguiram num acesso de adrenalina. Ele sentiu seus irmãos tensos ao seu lado. Todos eles foram ronins por tempo o bastante para conhecer os perigos da vida que levavam. Samurais eram guerreiros, soldados cuja lâmina servia a vontade de seus daimios. Um ronin, um samurai sem mestre, era uma força selvagem, incontrolada no Império. Por não poderem oferecer alianças a nenhum homem, eles não têm proteção além da própria astúcia. 



"Eu sou Takuro," ele rugiu. "O que você tem a tratar comigo?"

"Eu sou um conhecido de uma jovem dama chamada Sei.” respondeu o estranho. "Ela me disse que você a tratou de maneira desrespeitosa. É verdade?"

Takuro riu, e sua risada ecoou pelos seus irmãos. “Sim, é verdade, e daí?” ele perguntou.
“Ela não é nada, apenas uma geisha.”

“Ela é minha amiga,” disse o estranho. “assim como  os homens e mulheres dessa vila. Se você é um homem de honra, os oferecerão desculpas.”

“Desculpar-me com camponeses?” Takuro perguntou rindo. “Eles não têm valor. Os tratarei como quiser e você ficará fora disso.”


“Se não fizer como digo, ronin,” o homem pareceu cuspir essa palavra. “Então farei eu no que muito me agrada ganhar a honra desse vilarejo. Se suas desculpas não estão por vir, então o assunto será encerrado com violência.”

Takuro olhou o homem com cuidado. “Você é um tolo, estrangeiro.” ele disse. “São três de nós contra você.”

“Então você aceita meu desafio?” o homem perguntou.

“Que seja,” Takuro riu. “Eu não sei de onde você veio, mas deve ter feito um longo caminho para morrer nessa vila esquecida.”

O homem repousou seu manto sobre seus ombros, revelando os longos cabelos brancos e um brilhante
kimono azul, o mon de uma garça repousando em uma perna, estampado no seu ombro direito. Ele assumiu sua guarda, segurando sua mão direita com as costas sobre sua katana, como se estivesse oferecendo um presente. Ele olhou para cima, fixando olhos de um azul cristalino sobre o ronin e seus irmãos. “Meu nome é Kakita Mitsuo,” ele respondeu  com calma voz, “e venho da Estimada Casa da Garça.” 
Um calafrio de medo correu a espinha de Takuro. Os Kakita sempre estiveram entre os mais famosos espadachins do Império. Mesmo assim, era tarde demais para voltar. Ele não podia mostrar  fraqueza na frente de cinqüenta camponeses, não depois de ter se colocado como senhor do vilarejo. O Garça o desafiou, e o que restava de sua honra dependia do desafio ser aceito. Certamente que longe dos amigos de seu adversário da Garça, não havia razão para a luta ser justa.

“Matem-no,” Takuro gritou aos seus irmãos.

Eles correram com gritos furiosos, sacando suas lâminas e se movendo para flanquear Mitsuo. O Garça rapidamente se moveu entre um e outro e adotou uma postura baixa. Ele se agachou para um lado, evitando a espada do primeiro e chutando-o no tornozelo para tirar-lhe o equilíbrio. A lâmina de Mitsuo estava livre de sua bainha, e sua mão, rápida demais para que o olho do homem pudesse seguir, movendo-se para cima e defendendo a segunda lâmina com um impacto. A espada voltou num ataque feroz, cortando claramente as costas do primeiro homem. A  lâmina do segundo golpeou novamente e dessa vez Mitsuo não se moveu rápido o suficiente, um jorro de sangue escorreu do seu braço
esquerdo. Sua resposta foi mais mortal ainda, sua lâmina brilhante rasgou de cintura a ombro e deixou o irmão de Takuro cair em dois pedaços. 

 Mitsuo se virou, espada em mãos, e encarou Takuro novamente. O líder dos ronins ainda estava de pé nas portas da casa de sake, assistindo a batalha placidamente.

“Esses homens eram seus irmãos.” Kakita Mitsuo disse rispidamente. “Você não lutou ao lado deles?”

Takuro riu. “Eles não tinham chance contra um Garça,” ele respondeu. “Melhor que morressem do que eu. Eles serviram ao seu propósito.”

“Eu ainda estou de pé,” respondeu Mitsuo, movendo-se em direção ao ronin.

Takuro começou a caminhar para trás. “Não por muito tempo,” ele respondeu. “Você fica fraco a cada momento que sangra. Mais um pouco e até mesmo um Kakita será presa fácil.”


“Você não viverá tanto, ronin,” rosnou. Ele investiu sobre Takuro, espada erguida. 

O ronin sacou sua própria espada em resposta, desviando o ataque do Garça. Ele puxou uma faca com sua outra mão e cortou a altura do estômago do Kakita. Os olhos azuis se reviraram em dor. Takuro esperou que 
o homem caísse, mas isso não aconteceu. Ele sentiu uma fria sensação em seu ombro e só então percebeu que seu oponente arrancou-lhe o braço.

Um chute suave o fez cair por terra.

Takuro riu com o gosto do próprio sangue preenchendo sua boca. Ele olhou para o Garça com desdém. “Tolo!” ele cuspiu. “Você está a dias de qualquer socorro. Você pode me matar, mas morrerá dessas feridas também. Você deu sua vida por nada.”

O Garça apenas sorriu. “Para o covarde não há vida,” disse em voz firme. “Para o herói, não há morte.” Então a lâmina de Kakita Mitsuo golpeou uma última vez, e encerrou a vida de Takuro.”“.
 

Legend of the Five Rings 3º edition, página 4.

Nota: Todas as imagens foram retiradas de ilustrações dos livros oficiais.

Na próxima materia: Mutants & Masterminds

Kanpai!!!!

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