De fora da panela

Essa é a coluna escrita por voce, leitor do blog, que viu, leu, ouviu, pensou, etc... algo legal por ai e quer dividir com a gente. O tema é livre, se coça ai e manda seu texto para uarevaa@gmail.com.

Hoje o Diogo Mourão colabora novamente conosco, dessa vez analisando o DVD "Contos do cargueiro negro", que trás importante material complementar ao filme Whatchmen. Já tivemos uma resenha desse material feita pelo Vini, mas vale muito a pena conferir o que o Diogo detalha sobre o DVD que chegou faz pouco tempo nas prateleiras aqui.


DVD - Watchmen: Contos do Cargueiro Negro


A estória dentro da estória. O espelho para o mundo de Watchmen. Algo tão importante pra estória como a estória em si. Entre outras coisas, é isso como pode ser definida Contos do Cargueiro Negro, a hq de piratas que se intercala com a trama que acontece em Watchmen.

Durante a longa concepção do longa metragem, ela foi jogada fora, colocada fora e por aí vai, até Zack Snyder assumir o projeto e bater o pé para que não só ele, mas Sob o Capuz (o livro-biografia de Hollis Mason,o primeiro Coruja) estarem no filme ou de alguma ligada ao meio deste. Sob o Capuz ia acabar como extra no dvd e Contos acabaria unido ao filme, mas a Warner (que quando acerta, acerta de jeito, mas quando caga com algo é na mesmo proporção) achou que a duração de 3 horas e meia de filme era muito e decidiu limar Contos e mais algumas cenas “extras”(porque não existe esse lance de excesso com Watchmen,quando mais melhor). No final, uma solução diplomática foi lançar os 2 juntos em formas de curta metragem no recém criado, porem proveitoso mercado direto pra dvds. Agora vou comentar sobre os dois curtas, mais os extras presentes no mesmo.

CONTOS DO CARGUEIRO NEGRO

Bem, num mundo que super-heróis são realidade, qual é a graça de pegar uma revista e ler sobre eles? Isso que Alan Moore e Dave Gibbons pensaram quando quiseram focar uma parte da história mostrando a cultura de mundo onde os heróis realmente existam. O que poderia ser tão excitante quando super-heróis? Piratas! Não boiolas como os do Caribe, mas piratas de verdade, maus, carniceiros, refletindo o mundo novo, porém cruel, que se vivia. E os piores dos piores, aqueles até que os maus temiam, era o Cargueiro Negro e sua tripulação. Matavam, saqueavam, tocavam o terror, era o pesadelo vivo navegando pelo oceano.

No caso, além da hq dentro da hq, Cargueiro Negro serve pra refletir a salvação no mundo pelas mãos de Adrian Veidt, e de certa maneira é o reflexo da humanidade em Watchmen, cada vez pior, cada vez rumo à loucura e sem caminho de volta. Acompanhamos o capitão do barco recém atacado pelo Cargueiro tentar chegar a sua terra natal para impedir o próximo ataque, enquanto suas paranóias e sua ascendente loucura o levam a fazer atrocidades em algo quem ele acredita ser o bem maior, levando no final a se tornar um monstro que ele mesmo tentou combater. A moral em relação a isso é bem definida em Cargueiro Negro, enquanto em Watchmen abre a discussão, por no final apesar de ser próximos, Ozymandias e o Capitão, os atos deles levaram a situações bem diferentes.

No curta em anime é praticamente o mesmo, funcionam como filme separadamente, mas seria mais interessante ver junto ao Watchmen (filme), coisa que em breve quando a versão do diretor chegar poderemos apreciar do jeito correto. É assustador, psicodélico em certo momento, usa e abusa da violência nua e crua pra mostrar a queda do ser humano, definitivamente não é algo pra crianças. Em termos de técnica de desenho, foi feito frame a frame a lápis e depois jogado no computador e editado tudo pra chegar ao resultado final, deixando o resultado final com um aspecto meio old school, que pode agradar ou não o grande publico, mas sobre isso lavo minhas mãos. Particularmente gostei da técnica. Sobre as vozes, mesmo a voz de Gerald Butler ter ficado meio icônica por causa de 300, se sai bem trazendo o desespero do personagem, enquanto Jared Harris faz o melhor amigo morto e “consciência” do capitão, alimentando a loucura de que tudo que conhecia seria destruído pelo Cargueiro. É assustador, é adulto, e tão bom quanto original. Trabalha muito bem sozinho, mas funcionaria melhor se estivesse junto ao filme live action.

SOB O CAPUZ

Sobre o Capuz, ou Undah dah Rudd como diria os rappers gringos, serve pra ligar passado e presente da historia de Watchmen por meio do ponto de vista de Hollis Mason, o primeiro Coruja e sua biografia, após se aposentar como combatente do crime.

Numa retrospectiva do programa Culpeper Minute, uma década depois da lei Keene ser autorizada, vemos a vida e carreira comentadas pelo próprio Hollis numa entrevista descontraída dentro do Gulga Dinner, com participações de vários personagens do mundo de Watchmen, como Bernard, o jornaleiro (YES!!!), Sally Júpiter (Carla Gurgino, still hot), Lawrence Shexnayder (recebendo uma atenção maior do que a do filme), o Comediante (numa aparição curta, mas engraçada), Grande Figura, Wally Weaver, entre outros.

Vemos como sua vida se desenrolou do momento que saiu do interior para a cidade grande, como sua moral foi construída, mais aparições sobre os Minuteman, como se formaram e sua dissipação nos anos 50, assim como o aparecimento da segunda geração de heróis, Dr Manhattan e seus efeitos no mundo moderno, a opinião das pessoas sobre a recém criada Lei Keene e vida pessoal sobre Mason. Até o fato do Capitão Metrópolis ser do lado rosa da força está lá, implícito, como sempre.

O formato documentário pra tv funciona muito bem, principalmente pro publico leigo sobre a obra em geral ou que adorou a cena de abertura do filme mas não faz idéia de quem seja os primeiros mascarados, além de ter o mesmo propósito na hq de ser o elo com o passado para entender melhor o presente. O único defeito pra mim, e nesse momento vou ser meio xiita, é o fato de assumidamente Hollis ser gamadão na Espectral. Claro, Sally Jupiter era um símbolo sexual na hq e Carla Gurgino é BOA PRA CARALHO (faço questão de enfatizar isso em letras garrafais), mas se tinha isso originalmente, pelo menos não era explicito. Mas ajuda muito pra entender seu comportamento daí pra frente e o fato de ele estar presente na cena do estupro. De certa maneira fica um elo interessante entre os personagens. Apesar de eu ainda achar estranho o Comediante estar na equipe mesmo após ter tentado comer a mulé, tanto que ele estava na festa de despedida de Sally quando estava grávida... mas isso é coisa do filme e não discutirei isso agora.

EXTRAS

Os extras no caso são dois,o making off e um preview do motion comic de Watchmen. Sobre o making off ,mostra a importância destes pro quadrinho e pro filme, entre as imagens aparecem mais do Bernie e Bernard, e uma cena cortada do Sob o Capuz, quando o repórter faz perguntas a Sally sobre a real paternidade da filha dela...

Sobre o motion comic, está muito bem feito! Não tinha visto nada da nova versão dos “desenhos desanimados”, nem de Watchmen nem de qualquer outro, e fiquei assustado com a qualidade! O único porem é a voz. Sim, voz, porque um homem faz todas as vozes, e até aí ta tranquilo, ele consegue diferenciar bem, mas quando chega na ala feminina... parece voz de traveco. Você vê a Espectral toda sexy mas broxa quando ele/ela abre a boca... não é algo feliz. Acredite.

No final, pra quem gostou ou não gostou do filme ou é uma putinha não assumida do Snyder (como o Hell...), o dvd é recomendado pra entender e ampliar melhor o universo de Watchmen - o filme e ajuda as pessoas mais leigas a conhecer e reconhecer a riqueza do material.

Contos do Cargueiro Negro: 9,5

Sob o Capuz: 9.0

Nota Total: 9.0

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