Nas entranhas do Terror

Não apague a luz! Deixe seu telefone no gancho, acenda velas, agarre seu crucifixo, faça suas promessas, não pisque! À meia noite, os portões do Inferno se abrem, e a maldade reina absoluta nos recônditos mais profundos da mente humana. Esta é a hora profana, onde tudo pode acontecer, mas tenha certeza que, o que quer que aconteça, será um destino muito pior que a morte! Começa agora a mais nova e perturbadora coluna do Uarévaa! Prepare-se, pois, a partir de hoje, suas madrugadas de terça serão muito mais assustadoras!



Não é de hoje que as pessoas são fascinadas por seus próprios medos. Talvez essa fascinação venha da necessidade de superá-los, talvez venha do fato de não sabermos as origens psicológicas desses medos pois, embora muitos deles sejam possibilidades bem reais (morte, doença, mutilação, perda, animais peçonhentos), outros não são (assombrações, demônios, seres de outras dimensões, morto-vivos). Independente de qual seja o maior medo de alguém, o fato é que as pessoas – ou pelo menos a maioria delas – gosta de ser confrontadas por eles. Pelo menos na ficção.

É por isso que o Terror é um dos gêneros mais antigos da história e está espalhado pelas mais diversas formas de criação humana, desde a literatura, quadrinhos, cinema, TV, artes plásticas, música e por aí vai. Mas o que pode ser caracterizado como terror na arte?



Terror como conceito
Em sua raiz, terror é tudo aquilo que se pretende causar sensação de medo. Mas o terror como gênero artístico é muito mais do que isso. O gênero de terror nada mais é do que um estudo psicossocial do ser humano através da inserção de imagens ou situações perturbadoras. Por meio disso, o ser humano é capaz de ver seus próprios medos por outros olhos, permitindo-se assim encará-lo de frente, assim como aprender a conviver com eles. Obviamente, este parece um conceito estranho para um gênero que aparentemente se propõe apenas a assustar as pessoas. Mas é aí que reside a diferença entre obras artísticas de terror “de verdade” e obras que possuem a pretensão de serem “de terror”.

Falando especificamente de contar histórias – independente do meio utilizado –, podemos dizer que o grande mérito de uma verdadeira história de terror não é especificamente causar medo, mas sim ser perturbador. Afinal de contas, o que mete medo numa pessoa pode não instilar medo em outra, e vice-versa. Mas se você terminou de ler um livro/HQ, ou de assistir um filme/série de TV que o deixou inquieto, pensando no que você havia visto, e que mesmo após o término da história o deixou ligeiramente incomodado, mesmo sem você saber por que, você acabou de ler/ver uma verdadeira história de terror. Uma história de terror de verdade ataca nossos instintos mais profundos, provocando-nos e instigando-nos a respeito de algo que nem nós mesmos sabemos o que é. O grande mérito das verdadeiras histórias de terror não é nos assustar com aquilo que estamos vendo, mas sim provocar uma catarse, trazendo à tona aquilo do qual nós realmente sentimos medo.




É por esse motivo que muitas histórias de terror valem-se de criaturas macabras e/ou mórbidas como demônios, mortos-vivos, assassinos psicóticos, alienígenas bizarros, entre outros para criar um clima aterrorizante; não porque esses seres em si são assustadores (para algumas pessoas pode ser, mas para outras não), mas porque eles evocam símbolos arquetípicos do nosso inconsciente, relacionados com nossos próprios medos, e nos permite, na falta de um termo melhor, exorcizar nossos próprios traumas e temores, muitas vezes inconscientes. Em outras palavras, ouvir, ler ou assistir a uma história de terror nada mais é do que uma terapia auto-induzida, uma forma de nos libertar de nossos próprios temores.

Para causar catarse, as histórias de terror podem utilizar diversos elementos, muitos deles simbólicos (como criaturas infernais ou mortos que voltam à vida), outros fictícios (criaturas alienígenas, seres mitológicos ou folclóricos) e alguns bem reais, física ou psicologicamente falando (assassinato, animais peçonhentos, animais selvagens) e não precisa necessariamente ser uma forma de narrativa; atualmente é comum ver diversas vertentes artísticas utilizarem o terror como forma de expressão, não apenas literatura ou cinema.


O Terror como narrativa
Na narrativa de terror, podemos considerar o gênero como um ponto de vista mórbido de uma tragédia dramática. Como assim? Terror na verdade é um drama?

Sim e não.

Ao analisarmos mais profundamente as principais narrativas do gênero, podemos perceber a essência dramática de uma história de terror. No conto “Enterro Prematuro”, de Edgar Allan Poe, temos o drama de alguém que foi enterrado vivo; Na HQ “Monstro do Pântano”, vemos alguém que contra sua vontade se tornou num monstro horrendo; “Frankenstein” fala sobre o dilema do homem querer ser Deus, “Drácula” é sobre a busca pela alma gêmea, “O Médico e o Monstro” discorre sobre desejos reprimidos, a cinessérie “Sexta-Feira 13” traz à tona traumas de infância e vingança e por aí vai. Toda história de terror que se preze deve ter uma carga e um objetivo dramático definidos, mas mostrados de forma trágica e perturbadora. Por essa razão, não é permitido um filme de terror terminar de forma satisfatória. Não se engane com histórias genéricas; não existem finais felizes para histórias de terror. Sempre há danos irreversíveis ao (s) protagonista (s) da história, sejam eles mentais ou mortais.



Há também histórias em outros gêneros que contém elementos ou momentos de terror. As sessões psiquiátricas de Rorshcarch em “Watchmen”, o momento em que Coraline descobre a verdade no livro (e no filme) de mesmo nome e diversas cenas do clássico oitentista “Deu a Louca nos Monstros” são alguns exemplos.


O Terror como forma de expressão
Além disso tudo, o gênero de Terror também é usado como forma de expressão, não só artística ou poética, mas pessoal e social também. Os filmes de zumbis de George Romero, por exemplo, muitas vezes tinham como foco críticas ácidas à sociedade; muitos filme do Zé do Caixão ridicularizavam o fanatismo e a crença radical no sobrenatural e em dogmas religiosos, e mais recentemente os filmes da série Jogos Mortais trazem um interessante olhar sobre o voyeurismo desmedido e peculiar que hoje em dia gera altos índices de audiência para os “reality shows”.



Mas não é só de críticas “sérias” que vivem as histórias de terror. Muitas histórias apostam na paródia e na crítica ao próprio gênero para mostrar o quanto muitas pessoas levam à sério demais o terror, e se tornou quase um subgênero, o “Terrir”. “Todo mundo quase morto”, o clássico das madrugadas do SBT “A volta dos Mortos-Vivos” e mais recentemente o média “Planeta Terror” são ótimos exemplos.

Seja como conceito, narrativa ou forma de expressão, o gênero de terror representa uma das maiores fontes de criatividade e psicologia de todos os gêneros artísticos, além de ser talvez o que melhor represente nossos instintos inconscientes.

Por mais assustador que isso seja.



Na próxima madrugada:
Percorrerei as areias do tempo para trazer até você mestre de tudo o que é macabro. Aquele que criou as mais perversas e assustadoras criaturas... Que gerou uma verdadeira legião de malditos...
Não perca... O pai do medo.



P.S.: Se você achou esse post muito longo… QUE UMA CRIATURA DEMONÍACA ROUBE SUAS TRIPAS PARA FAZER UM RITUAL SATÂNICO!
Isso é um blog de colunas, se você quer postezinhos de 15 linhas vá ler outro Blog, porra!
E QUE UMA LAGARTA MUTANTE CORROA SEU CÉREBRO E UMA BRUXA LHE TRAGA DE VOLTA À VIDA COMO UM ZUMBI SE VOCÊ FIZER ISSO!

Related Posts with Thumbnails
blog comments powered by Disqus