O Ser Supremo

Cultura Japoronga


Por Alex Matos e Al Lock
Revisado por Orashinage

Dedico essa coluna de hoje ao xarope Birigui Ninja que torrou meu saco durante mais de um mês, sem ele essa matéria de hoje só sairia quando não tivesse porcaria nenhuma para escrever. Então culpem à ele! Já aviso para os preguiçosos que este texto ta grande pá cacimba!

Primeiramente devo ressaltar que não tenho nenhuma intenção (e saco) para esgotar o assunto sobre cultura japonesa, só vou explicar rapidamente (e porcamente) como o ramo de antropologia entende esse país. Se tu fores japonês, já aviso que se você quiser conhecer sua própria cultura direito, que volte para seu maravilhoso país (ou pergunte para o pasteleiro da feira!)

Um pouquinho e história: Enquanto as nações mais picas grossas do planeta deixavam a mentalidade feudal após trocentas décadas de transformação e se tornavam imperialistas, expandindo seu território, dominando as nações mais bundas, o Japão estava na dele, com seus samuraizinhos, Daimios e seus costumes antigos. Do nada esse povo de zóio rasgado vira imperialista, entra em guerra com meio mundo, se torna uma potência, elimina a casta samurai como conhecemos e começam a fazer os malditos mangás! Tudo isso em um curto período de tempo. Como conseguiram isso? Calma que o troço é ainda mais complicado: os samurais não estavam com vontade de perder seu status, o imperador não queria mudanças, os Daimios não estavam afim de ficar sem poder e o povão, que não mandava porra nenhuma, também não queria o barato pois já estavam acostumados a ficar de quatro e pedirem desculpas por estarem de costas e esse negócio de passar vaselina e fazer uns chamengos antes de serem fodidos era coisa de viado! Então se ninguém queria como mudaram de feudais tradicionalistas extremos para imperialistas?

A sociedade do Japão

Como muitas sociedades orientais, a sociedade do Japão era esquematizada por castas, raramente tinham mobilidade social, ou seja, raramente um camponês virava um Samurai:
Daimio: Picão que manda e desmanda numa região, é mais ou menos o equivalente ocidental aos senhores feudais. Tudo que os caras mandam é lei! Se o cara mandar você se matar e tu não fizer... ai ...ai... a punição era severa!

Samurais: A casta guerreira que serve diretamente ao daimio e o Imperador. Os caras não eram só os únicos portadores de espadas estilosas e lutavam feito o diabo, eram também os administradores do império. Imaginem um político de hoje com uma imunidade parlamentar tão foda que o cabra pode matar pobres na rua sem punição e o pior, são extremamente bem treinados em combate. Imaginem um Maluf de Katana...

Camponeses: Quem já viu um camponês já viu todos. Esses são os pobres, os figurantes sem nome. Apesar de individualmente não serem bosta nenhuma, coletivamente eram reconhecidos como os que alimentavam a nação e às vezes eram ouvidos.

Mercadores: Esses eram considerados a merda do cavalo do bandido. Esse lance de mexerem com dinheiro, tentarem enriquecer a custa de trocas era muito mal visto. Afinal, samurais de verdade não tocam em dinheiro!

Eta: Então, esses eram o dejeto do besouro que se alimenta da merda do cavalo do bandido! Considerados impuros, inumanos. Responsáveis pelos serviços considerados baixos demais para um ser humano: coveiros, açougueiros, carregadores de bosta, escritores de magas. O negócio era tão sério, que religiosamente falando, se qualquer um tocasse em um morto, renasceria como um ETA. Eram também excelentes pedras afiadoras de espadas, a samuraizada adora usar esses caras para treino de corte...

Monges: É casta religiosa da bagaça toda. Ficavam à parte da ordem política. O pessoal realmente respeitava um monge por considerá-los sábios e iluminados.
E o Imperador? Este só voltou a ter poder no período Meiji em mil oitocentos e alguma coisa, antes disso, era exatamente como o Zenon aqui do Uarevaa: Só servia de enfeite!

A mudança começou a ocorrer quando o Imperador volta ao poder e uma nova subclasse começa a ganhar asinhas. Os mercadores como disse acima, apesar de terem dinheiro pá caray, não eram ouvidos politicamente, não tinham status. Acontece que existiam os samurais buchas de canhão que não tinham dinheiro, poder e nem sequer um Playstation. Essas duas castas uniram o útil ao agradável: através de matrimonio, surgia os samurais comerciantes, com dinheiro e status. Esses caras, longe do xenofobismo comum dos japoneses, enxergavam como o restante do mundo estava e perceberam que se foderiam de verde e amarelo quando as grandes nações imperialistas se voltassem para eles. Foram esses caras os únicos que queriam a mudança.

On – a Honra e a Obrigação

Minha professora de cultura japonesa disse certa vez que quando uma mulher com uma criança no colo e um saco de supermercado caem dentro de um busão brasileiro, a primeira reação do povo é ajudá-la! Ela contava que no Japão a cena seria totalmente diferente: os caras nem olhariam para a mulher que caiu! “mas que filhos da puta” você diz. Não meu pequeno gafanhoto, na verdade os caras estão sendo legais com a moça. Calma que eu explico.

Tudo deriva da palavrinha “On” que porcamente foi traduzida como “Honra”, porém, em minha humilde e correta opinião seria melhor definida como “Obrigação moral”. A sociedade tradicional japonesa gira em torno dessa obrigação, de dívidas morais, sabendo seu lugar no plano das coisas e principalmente, sabendo o que os outros esperam deles. Quando o japonês nasce, já fica devendo um On para seus pais que o botaram no mundo. Se ele tiver um irmão mais velho, já ta devendo um on para esse cara também, pois um bom irmão mais velho sacrificará tudo pelos mais novos, sendo seu guardião e o responsável pelo seu sucesso dos irmãos. E ao longo da vida vai devendo um on para muita gente, seus professores, seu empregador, aos pais da sua esposa e trocentos outros. Para quem se tem um on, espera-se uma retribuição, no mínimo um sinal de respeito. Portanto, ajudando a mulher que caiu no busão, esta vai ficar devendo um on que dificilmente poderá pagar, ela não quer ficar devendo. Então a melhor coisa é ignorar sua queda, pois além de não ofendê-la, esta não perde sua dignidade.

Outra faceta dos japoneses se dá na filosofia da dedicação, que no filme “O Último Samurai” fica evidente isso quando alguém diz para o personagem do Tom Cruise que desde a hora em que acordam, até a hora em que vão dormir, ele se dedicam totalmente ao que fazem. Um pedreiro leva mais de oito anos para se tornar um mestre e exercer sua profissão legalmente, um padeiro idem! Os caras se dedicam realmente ao que fazem, procuram nunca começar algo que não conseguirão terminar.

Evidentemente que o ensino deles é levado muito à sério, afinal espera-se que o aluno que só estuda se dedique à isso. Nas empresas é a mesma coisa: dedicação. Daí quando vemos aqueles japoneses que trampando achamos que são passivos, obedientes, certinhos demais e totalmente Caxias, mas estamos errados! É só uma questão de cultura.

Mas como conseguiram mudar de Sociedade Feudal para Imperialista quebrando todas essas tradições de uma hora para outra sendo que o poder principal não queria essa mudança?
Agora fica fácil de responder. Os novos Samurais propuseram a mudança como algo necessário para a segurança da nação, o perigo dos imperialistas ocidentais era evidente. Os Ingleses foderam com a India, os Holandeses e franceses acabaram com a África e todos queriam um pedaço da China. Nessa época os Americanos já estavam de olho no bundão gostoso do Japão. Ou seja, não tinham escolha a não ser mudar. Com a volta do imperador ao poder, reforçando o sacramento de sua divindade, eliminando o poder do Xogun e diminuindo a influencia dos Daimios, ficou mais fácil impor a transição. Eliminou-se as castas, os Samurais foram pras picas abandonado de vez o osso administrativo. Como se precisava de indústrias, o Imperador as criou de um jeito ou de outro e as DEU para as maiores e mais fodonas famílias da época, se eu não me engano a Mitsubishi foi uma delas... Claro que teve umas revoltas aqui e ali, mas tudo foi relativamente tranqüilo se comparado às décadas (por que não dizer séculos!), que os ocidentais levaram para fugir do feudo e fundar suas nações imperialistas.

Então em resumo, os caras conseguiram mudar devido ao On, às suas obrigações, a prêmios e a dedicação. “Foda-se que vocês não querem mudar, vamos mudar assim mesmo por que precisamos ou seremos destruídos!”

Se essa matéria de hoje tiver uma boa repercussão, volto a falar mais sobre a cultura japonesa, a chinesa e a indiana. Como resumi muito as coisas, aguardo perguntas nos comentários, observações e críticas!

Fontes:
Hobsbawn
, Erick – A Era dos Impérios
Benedict, Ruth - A Espada e o Crisântemo

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