Uarévaa Entrevista:

Estevão Ribeiro


Roteirista, ilustrador, criador do personagem Tristão e das tirinhas Os Passarinhos, premiado por Pequenos Heróis, figura carimbada em eventos como Rio ComicCon (1 - 2), Estevão Ribeiro é natural de Vitória/ES, nascido em 2 de abril de 1979, mora atualmente em Nitéroi/RJ e a algum tempo se aventurou no mundo da literatura com dois lançamentos.




Você é bem conhecido pelo seu trabalho com quadrinhos, principalmente Os Passarinhos. Mas nos últimos anos se enveredou pelo mundo da literatura, o que lhe levou a fazer essa transição?

Inicialmente foi mesmo a falta de parcerias. Boa parte dos bons artistas geralmente está envolvida com seus próprios trabalhos ou com demanda de clientes. Parcerias do tipo que eu podia propor, que era uma história sem garantias de um retorno financeiro em curto prazo, tornava a coisa inviável. Claro que havia os que topavam, mas até hoje é preciso priorizar o que dá grana.

Já a literatura, você depende inicialmente de seu próprio esforço. É claro que existem mais pessoas envolvidas no processo de produção de uma história, como um preparador de textos, revisão, diagramação, designer para capa. Mas é mais fácil conseguir um contrato com um primeiro tratamento de um romance do que com um roteiro de quadrinhos.

A criação de um roteiro apesar de trabalhar com escrita, tem suas particularidades e difere até muito da escrita literária. Você acha que ser roteirista auxíliou na hora de produzir seus livros ou teve alguma dificuldade?

Na verdade as pessoas que lêem os meus livros os acham muito visuais, e isso é algo que trouxe da prática do roteiro para a prosa. Nem todos gostam do estilo, mas funciona bem em gêneros como terror e fantasia.

Seu primeiro romance foi o autobiográfico Enquanto ele estava morto, que conta os nove dias em que você passou procurando pelo seu irmão. Como foi por no papel uma história tão pessoal?

O livro foi um desabafo. Sim, é algo clichê de se dizer, mas garanto que, quem tiver a oportunidade de ler o livro entenderá o motivo da exposição de um assunto tão pessoal.

O texto fluiu de forma natural, pois eu tinha uma necessidade tremenda de contar o que passei e um pouco do meu passado. Eu queria responder perguntas que nunca me fizeram, mas que justificariam muitas das minhas atitudes.

Após algo mais realístico você lançou em 2010 o suspense sobrenatural A Corrente: passe adiante. Você sempre teve fascínio pelo desconhecido?

Sou muito medroso, me assusto com facilidade e tenho medo de morrer. Não é segredo que morrerei um dia, mas sofro de ataques de pânico durante o sono, por isso protelo a minha ida para cama. Esta entrevista está sendo respondida tarde da noite, por exemplo.

Em A Corrente coloco muito dos meus medos, assim como no meu próximo livro, “Rua M, 58”. Pago caro com isso, pois quando estou escrevendo, os pesadelos pioram.

E como tem sido a recepção ao livro?

O livro está há dois anos no mercado e vende bem, para o nicho. É terror com o objetivo de assustar mesmo, então muitas partes do livro chocam os leitores tradicionais. Mas o livro está a venda em todos os lugares e eu espero que, com a consolidação do mercado digital ele venda bem mais.

Só para variar um pouco, seu último trabalho foi em outro gênero totalmente diferente. O que lhe levou a escrever o infantil O Livro dos Gatos?

Eu ganhei um concurso de poesia aos 9 anos. Ganhei com um poema simples, rimando “mim” com “fim”, como a maioria das duplas sertanejas. Ganhei porque foi o único poema escrito de verdade por uma criança. Eu gosto de escrever rimas, que não vou chamar de poesia porque não entendo todas as regras, métricas e tudo mais.

Escrevi O Livro dos Gatos porque queria juntar duas vontades: a de me divertir, escrevendo para um público interessado em ler uma história sobre animais com perdas, magia, rimas e tudo mais e fazer um trato com a minha esposa, a escritora Ana Cristina, que trazia muitos gatos para casa. Eu disse que escreveria um livro sobre gatos e que daria metade dos direitos autorais para duas ONGs que recolhem e cuidam animais abandonados. Tenho trabalhado no segundo infantil da série, O Livro dos Cães.



Quais outros gêneros você tem vontade de trabalhar ainda?

Bem, gosto de fantasia e tenho algumas coisas ensaiadas aqui. Quero fazer algo de Ficção Científica, além de trabalhar mais em romances gráficos, soft novels e o que mais couber em meus projetos. O que quero é escrever.

O mercado brasileiro de literatura cresceu muito nos últimos anos, não só em vendas como em gêneros variados. Qual sua opinião sobre o cenário atual literário brasileiro?

Acho que houve uma democratização na produção de livros, graças a métodos mais práticos e baratos. As grandes editoras já não são as únicas a apostarem em autores, e isso é muito bom. Por outro lado, é mais difícil disputar espaço no mercado.

Não existe uma fórmula para ser reconhecido, virar sucesso. O fator qualidade? Questionável. Grande editora? Importante, mas não é o essencial. Estratégia de marketing? Talvez, mas se o produto não corresponder a idéia vendida ao público o próprio esquema perde credibilidade. Estamos no campo das experimentações, de sucessos instantâneos e um bocado de autores pondo a cara e disputando espaço com os vendedores de livrarias em eventos para defender o seu. Se isso é bom ou ruim, eu realmente não sei.


O mundo digital, com tablets, Iphones e etc. a disposição, tem muito destaque atualmente como meio de distribuição de obras. Para você, podemos dizer que é um bom lugar para autores investirem ou o “mundo físico” ainda é mais seguro?

Acho que é a leitura digital nem é mais o futuro, e sim o presente, mas ainda somos uma geração nascida e criada em meio aos livros físicos. O sonho do autor ainda vai manter os livros nas prateleiras por muito tempo. Mas eu acredito que a distribuição digital está aí para ajudar, não complicar.

Como roteirista de televisão, o que acha do processo de adaptação literária feito por ela e pelo cinema?

Uma adaptação audiovisual de uma obra literária é uma tarefa complicada porque nem todos interpretam uma leitura da mesma forma. Mas para mim a adaptação é por si só, uma obra à parte e deve ser encarada como tal, sem questionamento das suas diferenças da outra mídia. Não dá para adivinhar as feições guardadas na cabeça do leitor.

Nesse aspecto acho que os quadrinhos adaptados para o cinema são mais felizes, porém a necessidade de imprimir a própria assinatura na obra compromete parte do processo, levando muitas vezes os espectadores/leitores à decepção.

Gostaria de ver alguma de suas obras adaptadas para televisão ou cinema?

Por muito tempo achei que veria o Tristão em um seriado ou num filme com uma bilheteria interessante, e o que consegui foi um trabalho legal dos alunos de faculdade e cinema de Piracicaba (abaixo), mas eu tenho trabalhado para ver minhas criações adaptadas para o audiovisual. Filme de A Corrente, de “Enquanto...”, seriado animado de Os Passarinhos... além de produções originais que tenho trabalhado com afinco. Produzi uma sinopse de um seriado de vampiros... uma hora eu consigo mostrar à alguém.



Algum projeto literário já rodando em sua mente ou em desenvolvimento que possa nos contar?

Literário tem a “Rua M, 58”, um thriller sobre histórias que aconteceram em uma casa que um casal vai visitar. Além do “O Livro dos Cães”, já citado.

E para não passar em branco, em que projetos de quadrinhos andas envolvido ou criando?

Eu estou produzindo a adaptação/mashup “Da Terra à Lua”, baseado nos romances “Da terra à Lua” e “A Volta da Lua”, de Júlio Verne e “Viagem à Lua,” produção cinematográfica de George Mélies. Ainda utilizo elementos da história de H.G.Wells, Os Primeiros Homens na Lua.

Gostaríamos de agradecer sua participação em nosso blog, e qual mensagem gostaria de deixar para nossos leitores?

Eu que agradeço a oportunidade de poder falar mais dos meus trabalhos e convido a vocês a conhecerem outros, inclusive a reedição ampliada de “Contos Tristes e Algumas histórias de amor”, um álbum em quadrinhos com participação de diversos nomes do mercado independente brasileiro.

E parabéns a todos por cada vez mais prestigiarem autores nacionais. Ainda estamos longe de vivermos do ofício, mas já podemos ter orgulho do que fazemos, pois nos ajuda a pagar algumas contas.

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