15 Anos da Morte de Renato Russo – O que você vai ser quando você crescer?


“Não sou mais tão criança a ponto de saber tudo.”



Se essa é a semana temática das crianças, também é o aniversário de 15 anos da morte do músico Renato Russo.

E uma coisa tem muito a ver com a outra, pra mim.


Eu, como quase todo mundo no mundo, teve aquele impacto assustador quando foi jogado da infância para a adolescência.

Do nada, você não é mais o garotinho que brinca de lego e chuta bola na rua (mesmo que sem a menor coordenação, no meu caso). Você é um garoto cheio de duvidas, de novos sentimentos, que se enche de revolta ao mesmo tempo em que se questiona.

“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou. Mas tenho muito tempo.”

É quando o mundo se mostra não mais tão inocente quanto parecia. Tudo fica mais complexo. E mais intenso. Afinal, pra todo adolescente, tudo parece ter uma importância muito maior do que realmente tem. Amizades, amores, intrigas, decepções, tudo é extremamente assustador e visceral.

“Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém?”

Bobagem? Que nada. Realmente é dilacerador o sentimento que brota dessa fase. Convenhamos, o mundo ainda te vê como uma criança, mas passa a te cobrar como adulto. As brincadeiras de rua ficam cada vez mais distantes, ainda mais quando você quer impressionar a menina mais bonita da sala ou os amigos com quem precisa se enturmar.

Convenhamos, pouco tempo antes, você jogaria areia na menina mais bonita da sala e não estava nem aí pro que seus amiguinhos pensavam de você.

E é exatamente essa dramaticidade da adolescência que faz dela uma fase tão importante. Afinal, é quando a gente aprende que tem contradições. Os hormônios explodem, as inquietações também.

“Vamos lá, tudo bem. Eu só quero me divertir. Esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir.”

E tudo isso estava engasgado na minha garganta. Dentro do peito. O mundo estava se abrindo diante de mim, e eu cada vez mais assustado com aquilo tudo que havia de encarar.

Afinal, acima de tudo, eu tinha que encarar finalmente a mim mesmo.

Quando você entra na adolescência, chega a hora de descobrir quem você é. E isso é o mais assustador. E, assim como qualquer jovem dessa idade, me senti perdido e sozinho.

O famoso ninguém me entende.

Até que uma voz muito grave, que nem era tão afinado assim, acompanhado de um arranjo simples, mas bom de ouvir, disse ao mundo o que eu queria dizer.

“Vem cá meu bem, que é bom viver. O mundo anda tão complicado. E hoje eu quero fazer tudo por você.”

A Legião Urbana nasceu em 1982. Ano do meu nascimento. E cresceu, amadureceu junto comigo.

Renato Russo, ao lado de Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, cantou a juventude de toda uma geração – coca-cola. Renato escreveu sobre política, escreveu sobre as mazelas, sobre o sofrimento do brasileiro e sobre o quanto é difícil se ter esperança em um país como nosso.

“Vamos festejar a inveja, a intolerância e a incompreensão. Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente...”

Renato era como eu e você, que está lendo. Alguém que queria ser ouvido. Alguém que, perdido como todos nós, escreveu o que lhe afligia. Não posso falar por ninguém, mas tenho certeza que falo por muitos: ele escreveu ali as minhas aflições.

Não vou aqui fazer um resumo da vida dele. Não é minha intenção. Há de se dizer, sim, que Renato tem uma história bonita e muito legal de ser revista. Mas o que procuro aqui é mostrar o quanto as músicas dele influenciaram minha vida.

Mais que isso, me acalentou em momentos de angustia adolescente.

“... sem saber que o pra sempre, sempre acaba.”

E com os anos passando, a gente vai aprendendo a lidar com o novo eu que está nascendo. A criança vai ficando para trás quando o mundo nos trás a paixão, a responsabilidade, a preocupação com o futuro.

A vida vai mandando a gente se tornar mais maduro, mais sério, menos passional.

E por quê?

Quer coisa mais humana do que ser passional? Do que sentir na alma a dor de estar ou não sozinho? O adolescente pode ter muito defeito, mas raramente é egoísta. Afinal, todo adolescente sabe que, irrefutavelmente, dentro do mundo que ele conhece, é ele e sua turma contra o mundo.

“O sistema é mal, mas minha turma é legal”

Se antes sua preocupação era a menina bonita que não te deu bola, e isso parecia o fim do mundo, ou o seu melhor amigo que cometeu uma traição imperdoável ao beijar aquela mesma menina que não estava nem aí pra você, agora existe uma porta com o letreiro: FUTURO. Vestibular, faculdade, carreira.

Caramba. Você mal conseguiu atinar que a menina bonita não vai ficar com você e que seu amigo não é um mau caráter por também gostar dela, e já querem que você escolha o que fará pro resto da vida?

Mais do que isso, você finalmente tem o conceito de que é um homem (ou mulher). Você amadurece aqueles sentimentos sufocantes, apenas para sufocá-los em algum lugar onde não transpareçam. Ou que fique escondidos o suficiente para que não coloque em risco a imagem de amadurecimento imposta a você.

Mas eles estão lá... Esperando para não morrerem.

“Dos nossos planos é o que tenho mais saudade.”

Renato Russo, acima de tudo, me ensinou que amadurecer não é matar os sentimentos fortes que a juventude traz. É domá-los, aprender com eles.

Mas também é se apaixonar pela vida a cada dia, como se estivesse a conhecendo novamente.

Renato nos deixou em 11 de outubro de 1996. Suas cinzas foram lançadas sobre o jardim de um sítio.

Suas letras foram lançadas na história.

“Podem até maltratar meu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar.”

Renato Russo deixou um legado para toda uma geração. Mais que isso, ele deixou músicas atemporais, regravadas por dezenas de músicos e letras, que por falarem dos mais intrínsecos sentimentos do ser humano, jamais ficam datadas.

Tanto que uma campanha de marketing conseguiu se disseminar rapidamente, trazendo a empolgação ao país inteiro, retratando uma história de amor que já estava desenhada no subconsciente de todo mundo.



E está em produção um longa metragem sobre a mais trágica história de amor da música brasileira.

Sua mensagem marcou minha geração, e indiscutivelmente, as gerações que me seguiram. Tanto que, 15 anos depois de sua morte, Renato Russo conseguiu reunir cem mil pessoas ao vivo, mais milhões assistindo em casa, cantando em uníssono uma frase que deveria ser um lema:

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar para pensar, na verdade, não há.”



Parando pra pensar, 15 anos que Renato se foi, eu estava no auge da adolescência.

Ele me ensinou que mesmo adulto, ainda temos os mesmos medos, anseios e frustrações de um adolescente.

“E eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir.”

Hoje ouvindo as músicas da Legião, eu percebo, que mesmo 15 anos mais velho, eu ainda sou aquele garoto que sofreu com a mudança de cidade.

Aquele garoto que era introspectivo no colégio, e aprendeu a fazer amigos.

O garoto que escutava música no quarto pensando na menina que gostava.

E que tremia na base, gaguejando, pra falar com ela.

O garoto que queria fazer grau com a turma, e ficava bêbado com meio copo de cerveja.

Que gostava de se impor pros pais, só pra correr pro colo deles quando o bicho pegava.

Do garoto que rabiscava os cadernos com desenhos ao invés de fórmulas matemáticas.

Eu posso crescer, posso ter milhares de responsabilidades e preocupações na cabeça, mas quando ouço o que Renato Russo escreveu eu percebo que ainda sou aquele garoto.


Percebo que ainda sou aquele menino que acreditava em super-heróis.

Feliz dia das crianças.

Obrigado Renato Russo.

E até o próximo episódio.

Related Posts with Thumbnails
blog comments powered by Disqus