United States of Tara

Salve, salve rapaziada. O bom filho a casa torna e quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?

Mas vamos pular os ditos populares e ir direto ao ponto.


Nesse grande intervalo que fiz aqui no Uarévaa, tive tempo de assistir uma pancada de séries, algumas que eu estava em dívida para conhecer.

Entre ela, começo com meu novo xodó.

Imagine conviver com alguém com um problema psiquiátrico grave, absurdamente insólito e ao mesmo tempo, uma pessoa adoravelmente apaixonante.

Alias uma pessoa não. Quatro. No mínimo.

Isso é “United States of Tara”.


A série fala sobre Tara. E T. E Buck. E Alice. Mostra as diferenças e mazelas entre esses quatro personagens. E a dificuldade que eles têm em conviverem visto que eles são... A mesma pessoa.

Tara Gregson tem uma doença: Transtorno Dissociativo de Personalidade, ou simplesmente, múltiplas personalidades. Ela se divide em outras três personalidades, alem de sua própria, a mãe de 35 anos, esposa compreensiva e descolada. A tresloucada, ninfomaníaca e rebelde adolescente T; o grosseiro e rude, porem de bom coração, Buck; e a dona de casa perfeitinha, estilo anos 50, controladora e pudica Alice.

O conceito, que a principio mostra uma gostosa comédia, também acaba se revelando um drama sutil e emotivo. Quando apenas vemos as transformações de Tara, elas nos arrancam algumas boas risadas. Mas, assim como na vida, tudo tem seu lado triste. A doença de Tara afeta diretamente sua família, e causa muito sofrimento a ela.


Ao seu lado, enfrentando as mazelas do distúrbio de Tara está sua família. Max, seu marido, é o ser mais compreensivo do mundo. Sempre apoiando a esposa, ele cuida da mulher com afinco, alem de lidar perfeitamente bem com suas outras personalidades. Max é o pai e marido perfeito, apoiando incondicionalmente esposa, filhos e amigos em todos os momentos. Sua filha mais velha, Kate, é a típica rebelde de 15 anos. Algumas vezes inconsequente, algumas mais madura que seus próprios pais, Kate está em busca de um rumo na vida, com qualquer adolescente. Ela tem um senso de humor ácido e hilário, sempre com tiradas geniais e absolutamente cruéis. O filho caçula, Marshal, é outro show a parte. Um garoto educado, inteligente, extremamente formal e recatado, está à procura de descobrir sua própria identidade. Interessante como ele é um dos poucos personagens abordando um tema que já está ficando batido em seriados e novelas, mas de uma forma inédita e nada estereotipada, sem julgamentos de valores ou hipocrisias. Por fim, a Irmã de Tara, e minha personagem favorita, Charmaine. Todo mundo já teve uma tia como Charmaine. Meio irresponsável, solteira, que sonha com um marido perfeito, cheia de paranóias e vive entre tapas e beijos com a Irmã.

A série aposta num humor sutil, então não espere tiradas a La Friends ou Two and a Half Men. É uma dramédia muito acima do comum nesse gênero, comparando, por exemplo, a Desperate Housewives.

Alias, eu tenho a impressão que as dramédias estão recorrendo a um subterfúgio que se tornou clichê – e vazio. Utilizar de humor negro excessivo para chocar e / ou fazer rir.


United States não cai nessa armadilha. Por mais problemas, por exemplo, que os “alters” de Tara tragam, em momento algum eles tentam nos fazer sentir enojados ou chocados com o que vemos. Tudo é levado de uma forma sensível e fala mais sobre compreensão àquilo que lhe é diferente do que qualquer outra coisa. Todos os absurdos que vemos ao longo dos episódios vão sendo assimilados naturalmente pelo elenco, e dessa forma, por osmose, por nós mesmos.

O grande trunfo é Toni Collette, que interpreta Tara. Atriz sensacional que você deve lembrar como mãe da Pequena Miss Sunshine (né, Change?) ou do menino do Sexto Sentido.

Tony, como Tara, mostra todo o vigor de quem quer se curar, assim como em determinado momento, a exaustão e o desespero que a sua condição lhe implica.


E se ela consegue fazer Tara uma mulher real, pela qual torcemos e sofremos junto, seus alters não deixam por menos. Toni dá a cada um deles uma atitude completamente diferente – e assustadoramente reconhecível. Quando ela se “transforma”, basta o abrir de olhos de Tara para, com apenas um olhar, ficar evidente qual alter está no comando.

Sobre os alters, que são a grande linha mestra do enredo, há muito que se falar. Primeiramente, é genial como os “gatilhos” para as transições acontecem. Depois de poucos episódios, você já consegue antever quem tomará conta do corpo conforma a situação que vemos acontecer, de tão condizente que a coisa é.

Sempre que Tara se vê indignada e precisando se defender, ou a sua família, o bronco Buck aparece. Buck se diz um veterano do Vietnã. Brigão e mulherengo, e muito machista, ele é o único alter masculino. Bebe e fuma como um condenado e não perde a chance de cantar uma garota bonita.

Quando Tara se sente fora do controle da situação, e não sabe como retomá-lo, Alice é quem dá as caras. Alice é ponderada, consegue manter sua postura elegante em qualquer situação e jamais perde o rebolado. O autocontrole dela é assombroso, assim como sua capacidade de manipular qualquer situação a seu favor, apenas com palavras.

E quando Tara chega ao limite da sanidade, normalmente sendo desafiada por algo que ela não tem coragem de encarar, a enlouquecida T surge. T é o lado rebelde e inconseqüente de Tara, potencializado ao máximo. T é insana, tarada, e quase incontrolável. Algumas vezes nem mesmo Max consegue frear sua fúria juvenil.


Mas na realidade percebemos que as personalidades de Tara, todas tratadas por ela e por sua família como indivíduos independentes dela mesma, como pessoas diferentes realmente, fazem o que Tara não pode – ou não tem coragem – de fazer.
E com o tempo, novas personalidades começam a se manifestar, cada uma exibindo uma faceta da personalidade de Tara. Não vou comentar mais porque a diversão está em ir conhecendo esses alters.

US of Tara tem um texto muito bem escrito, com diálogos inteligentíssimos, das mãos de Diablo Cody – a mente por trás de Juno – e é tão inteligente quanto comovente e divertida. E o produtor executivo é ninguém menos que o pai do E.T. – Mr. Spielberg.
Vale cada minuto assistido – e reassistido. Afinal, a cena final da temporada 1 – em que todos os alters surgem quase ao mesmo tempo – é épica, e uma das mais impressionante atuações que já tive o prazer de ver na vida.


Galera, Moura recomenda muito United States of Tara! Apreciem, porque é uma trama para ser apreciada, e não apenas assistida.

Fiquem com a abertura, uma animação que diz tudo sobre a série, assim como a letra da musica tema. Fala muito sobre a serie, fala muito sobre a vida.



Até o próximo episódio.

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