
Fortaleza da Solidão ou o “bom mocismo” no mundo atual
O que é ser um herói? De acordo com a Wikipédia “herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Difere-se de indivíduos comuns pela sua capacidade de realizar proezas que exigem a abundância de alguma virtude crucial aos seus objetivos – fé, coragem, vaidade, orgulho, força de vontade, determinação, paciência, etc. O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral e paz”.
Em um mundo pós 11 de setembro, repleto de mortes, tiroteios e choro nas telas das televisões, como esse conceito de herói se encaixa, como continuar sendo moral, se sacrificar em prol dos outros? É difícil não cair na armadilha da violência e do lugar comum do “olho por olho”, e no mundo dos quadrinhos não é diferente.
A década de 90 nos trouxe a apologia ao violento, sanguinário e, para ser mais redundante ainda, cruel herói, aquele que faz justiça com as próprias mãos e retira o mal pela raiz (e tantas outras frases clichês). Justiceiro, Wolverine, Spawn, Authority, são exemplos de personagens com uma temática mais visceral, mostra da insatisfação com a impunidade de políticos, bandidos e afins (?). E no meio de tudo isso o conceito de super-herói se desvirtuou, tornou-se sinônimo de pancadaria, não que eu não goste desses personagens (adoro até), porém só isso não passa algo que as histórias em quadrinhos nasceram mostrando: Bons exemplos.

Estava relendo o primeiro embate do Ùltimo Filho de Krypton (e ajam adjetivos) com a equipe intitula Elite, sob o comando do “mother fuck” Manchester Black [Superman 38 Panini Comics], onde o Super é confrontado com a tendência dos heróis canastrões e arrogantes, aqueles que matam o vilão para não vê-lo nunca mais. Nessa história a população passa a apoiar a nova equipe e colocam em xeque o “ultrapassado” herói de Metrópolis, a partir da releitura desse material comecei a me questionar se não foi por isso que o Superman Returns não decolou nos cinemas, entre outros fatores (como má divulgação), por seu público o achar demasiadamente antigo, com valores que não se aplicam mais no contexto atual. E indo além, fazendo uma retrospectiva cinematográfica, fiz algumas conclusões acerca dos recentes sucessos do estilo cinema-quadrinhos me pautando nos principais:

Um drama romântico, que conquistou mulheres (ponto pra Singer) como uma amiga que achou o filme demais, e pouca ação e conteúdo de verdade. Diferente de outros filmes, Returns trazia uma grande expectativa por ser o primeiro filme depois de mais de 20 anos do personagem, que tinha se imortalizado com outro ator já falecido (aumentando a pressão), por isso se esperava algo fantástico e isso não veio. Assim como nas HQ´s eu sempre espero de uma aventura do Superman exatamente aquilo que seu nome traz: Algo Super, com desafios espetaculares (entenda como cenas de ação fantásticas), porém com uma lição, ou simbolismo por trás que traga a essência do personagem, e a primeira incursão de Brian Singer não me trouxe isso. Adoraria ver em um segundo filme o Clark enfrentando Manchester Black e sua trupe, mostrando o que é ser um herói de verdade, levando pra geração Resident Evil algo além de descargas de adrenalina em overdose, mas sem ser sombrio como a Warner deu a entender que seria a continuação (que nem sabemos se vai ter mesmo)
No filme Lois Lane pergunta: por que o mundo precisa de um Superman? E talvez a resposta seja porque o mundo precisa ter um exemplo, acreditar que ainda existem pessoas boas que fazem o bem sem querer algo em troca. Porque, em um mundo onde matar e ser violento se tornou sinônimo de herói, é preciso alguém para mostrar o contrário: que a vida humana ainda é importante.
Marcelo Soares